A Cúpula dos Povos, evento paralelo à 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), terminou neste domingo 16 com a leitura pública da Declaração da Cúpula dos Povos rumo à COP30, o documento político que sintetiza as denúncias, propostas e agendas construídas ao longo dos cinco dias de atividades com o acúmulo das mais de 1,3 mil organizações participantes de todo o mundo. Uma das representantes da Cúpula dos Povos que leu a carta publicamente foi a diretora da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN) e presidenta da CUT Pará, Vera Paoloini. A carta foi entregue na sequência ao presidente da COP30, André Corrêa do Lago, como reivindicação para as negociações dos governos.
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“Fizemos um grande ato político importante. Já no sábado fizemos a Marcha Global Por Justiça Climática, que reuniu cerca de 70 mil pessoas de diversos territórios do Brasil e do mundo. Ponto alto do encerramento foi a leitura pública da carta final intitulada Declaração da Cúpula dos Povos rumo à COP30 documento que sintetiza as denúncias, propostas e agendas construídas ao longo dos cinco dias de atividades com o acúmulo político das mais de 1,3 mil participantes. A carta foi entregue, logo em seguida, ao presidente da COP30, André Corrêa do Lago. A CUT esteve presente em todo o processo e integrou a leitura do documento, representada pela presidenta da CUT-Pará, Vera Paoloni.

“A Marcha que fizemos no sábado reunindo cerca de 70 mil pessoas de diversos territórios do Brasil e do mundo, a barqueata e o processo todo da Cúpula dos Povos foram a mais linda expressão de resistência da diversidade dos movimentos sociais, que mostraram suas reivindicações, suas pautas, que se expressaram também na plenária final nesse espaço maravilhoso da Universidade Federal do Pará, que abriu suas portas para acolher essa diversidade do mundo”, comemora Vera Paoloni, coordenadora do Coletivo de Meio Ambiente da Fetec-CUT/CN), presidente da CUT PA.
“E a nossa Fetec Centro-Norte e a CUT marcaram presença, apresentaram suas lutas em defesa do meio ambiente. Estamos encerrando a Cúpula dos Povos com a leitura da Carta Política final, o banquetaço e exposição da produção da agricultura familiar. É uma grande alegria produzida por essa energia da luta que sempre travamos, e que continua agora na COP 30 com as nossas propostas e a necessidade de radicalizar a democracia, a defesa do meio ambiente e da vida no planeta”, acrescenta Vera Paoloni, que também é vice-presidenta do Sindicato dos Bancários do Pará.
A Fetec Centro-Norte, que durante todo o ano envolveu todos os sindicatos filiados na discussão de propostas para a COP 30, participou ativamente da Cúpula dos Povos. Além dos bancários paraenses, a Federação enviou 46 representantes da categoria nas regiões Norte e Centro-Oeste, dentro os quais do Sindicato dos Bancários de Brasília.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse neste domingo 16 que a Cúpula dos Povos foi fundamental para tornar viável a COP3, organizada por movimentos sociais de 62 países que ocorreu em paralelo à COP.

O encerramento foi acompanhado também pelo cacique Raoni Metuktire, liderança histórica dos povos indígenas do Brasil, que há décadas denuncia a destruição ambiental e o avanço de violações contra povos originários. Em sua fala, Raoni lembrou que alerta para a crise ambiental desde muito antes de o tema ocupar a agenda global. “Há muito tempo eu vinha alertando sobre o problema que, hoje, nós estamos passando, de mudanças climáticas, de guerras”, afirmou. Ele convocou os movimentos presentes a seguirem mobilizados: “Peço que possamos dar continuidade a essa missão de defender a vida da Terra, do planeta. Que tenhamos essa continuidade de luta contra aqueles que querem destruir a nossa terra”, disse.
A leitura da carta política da Cúpula, feita de forma coletiva por representantes de diversos movimentos, marcou o tom do encerramento: um chamado à ação, à solidariedade internacional e ao enfrentamento direto às estruturas que alimentam a crise climática. A presidenta da CUT-Pará, Vera Paoloni, participou desse momento e recitou um trecho central do documento, que resume o espírito do encontro:
“A nossa tarefa política principal é o trabalho de organização dos povos em todos os países e continentes. Vamos enraizar nosso internacionalismo em cada território e fazer de cada território uma trincheira de luta internacional. É tempo de avançar de modo mais organizado, independente e combativo para aumentar nossa consciência, força e combatividade. Agora eu vou dizer e vocês vão repetir: Povos do mundo, unidos. Povos do mundo, uni-vos”.
O texto denuncia as “falsas soluções” apresentadas por governos e corporações para enfrentar a emergência climática, especialmente aquelas baseadas em mecanismos de mercado que não alteram a lógica de exploração dos territórios. O documento afirma que a crise climática é resultado direto do modo de produção capitalista, responsável por aprofundar desigualdades, impor violência aos povos e provocar degradação ambiental em escala global.
A carta aponta ainda que as comunidades periféricas, povos indígenas, ribeirinhos, quilombolas, trabalhadores rurais e populações negras são os grupos mais impactados pelos eventos climáticos extremos, consequência direta do racismo ambiental e da desigual distribuição de poder e recursos.
Leia aqui a DECLARAÇÃO DA CÚPULA DOS POVOS RUMO A COP30
Um dos eixos centrais do documento é a responsabilização clara das corporações transnacionais — mineradoras, empresas de energia, indústria bélica, agronegócio e Big Techs — pela catástrofe climática. A carta defende que não haverá transição justa sem enfrentamento direto à concentração de riqueza, à exploração dos territórios e às estruturas que criminalizam povos e movimentos sociais.
Entre as reivindicações apresentadas estão:
A carta dedica parte substancial à crítica aos conflitos e guerras em curso no mundo, com denúncia explícita do genocídio contra a Palestina e solidariedade às populações que resistem a intervenções militares, inclusive no Caribe e na África. O documento afirma que o imperialismo segue ameaçando a soberania dos povos e instrumentalizando conflitos para manter privilégios econômicos e geopolíticos.
Autoridades recebem a carta e assumem compromissos
O encerramento contou com a presença das ministras Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e Marina Silva (Meio Ambiente e Clima), além do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Guilherme Boulos, que recebeu oficialmente a carta.
Boulos anunciou que a Secretaria-Geral abrirá uma mesa de diálogo permanente com os povos do Tapajós, para assegurar participação direta antes da implementação de qualquer projeto na região. Para ele, a democracia exige escuta ativa e protagonismo dos territórios.
Sônia Guajajara ressaltou que acolher a carta é reconhecer a centralidade dos povos na defesa da vida. “A democracia é feita com participação do povo, com escuta e compromisso”, afirmou.
Marina Silva reforçou que o país enfrenta uma emergência climática. “O que foi feito até agora não tem sido suficiente, porque o clima já mudou”, disse.
André Corrêa do Lago, presidente da COP30, comprometeu-se a apresentar o documento nas reuniões de alto nível que terão início nesta segunda-feira (17).
CUT reforça papel estratégico da classe trabalhadora
Ao longo da Cúpula, a CUT participou de diversos debates, inclusive como parte do Eixo 3, dedicado à crítica aos modelos econômicos vigentes e aos impactos da transição energética. Nesse espaço, representantes de diferentes países denunciaram a captura corporativa da agenda climática e defenderam que a transição deve ser conduzida com democracia, soberania dos povos e garantia de direitos trabalhistas.
No debate, a secretária nacional de Meio Ambiente da CUT, Rosalina Amorim, lembrou que comunidades periféricas continuam excluídas dos processos decisórios e que a transição não pode se transformar em nova forma de desigualdade. O Eixo 3 serviu como exemplo da diversidade de debates que compuseram a Cúpula e do papel da CUT na defesa de uma transição justa orientada pelos povos.
Participação massiva e encerramento com banquetaço popular
A Cúpula dos Povos reuniu cerca de 70 mil pessoas de movimentos sociais locais, nacionais e internacionais, povos indígenas, trabalhadores urbanos e rurais, população em situação de rua, juventudes, mulheres, população LGBTQIAPN+, pescadores, quilombolas, marisqueiras e diversos outros grupos que formam a pluralidade da Amazônia e do Sul Global.
A abertura teve uma grande barqueata pela Baía do Guajará, e o encerramento contou com um banquetaço popular na Praça da República, preparado por cozinhas comunitárias e acompanhado de apresentações culturais abertas ao público.
A carta final sintetiza esse espírito de pluralidade e afirma: “Nossa visão de mundo está orientada pelo internacionalismo popular, com intercâmbios de saberes que constroem laços de solidariedade e cooperação entre nossos povos”.
Fonte: Fetec-CUT/CN, com informações da CUT e da Agência Brasil
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