Jacques Pena assume o banco e elege como principal desafio dar mais competivividade à instituição e o rombo de R$ 200 milhões. A cerimônia foi prestigiada por sindicalistas, deputados distritais e federal, prefeitos, secretários de Estado e representantes do governo federal
Na posse mais badalada da história do Banco de Brasília (BRB), o novo presidente, Jacques Pena, assumiu o cargo com a missão de segurar os servidores locais na carteira de clientes e tornar a instituição mais competitiva no mercado. Ele anunciou um investimento, ainda em 2012, de R$ 150 milhões na área de tecnologia da informação, para modernizar os sistemas e aprimorar o atendimento. Com o apoio da militância sindical, do Governo do Distrito Federal e de uma ala forte do PT, partido ao qual é filiado, Pena adotou um discurso de resgate do banco.
Empossado, ele falou por 11 minutos para mais de mil pessoas. Aproveitou a atenção da plateia para informar o prejuízo milionário registrado no segundo semestre de 2011. "O BRB é um banco saudável. Entretanto, teremos um resultado desfavorável", afirmou. Duas operações, segundo ele, abriram um rombo de R$ 200 milhões na instituição. A mais grave delas, na ordem de R$ 130 milhões, refere-se à compra de títulos podres do Fundo de Compensação de Variações Salariais (FCVS). A segunda diz respeito a empréstimos de R$ 70 milhões usados por cooperativas para aquisição de micro-ônibus.
No fim da cerimônia, ele negou que tenha adiantado o balanço oficial da instituição durante seu primeiro pronunciamento. Disse que o resultado foi impactado negativamente por duas operações. "Se, porventura, transpareceu isso (o resultado final), não é essa a informação", ponderou. Os números fechados, completou o novo presidente, serão divulgados até março. No primeiro semestre de 2011, o BRB apresentou lucro líquido recorde de R$ 111 milhões, crescimento de 11% na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Prejuízo
Pena elegeu o prejuízo deixado de herança como "problema número 1" da gestão iniciada ontem. Sem entrar em detalhes, avisou que "o banco está tomando todas as providências jurídicas cabíveis". O governador Agnelo Queiroz (PT) citou os R$ 200 milhões em seu discurso, mas afirmou ter certeza de que o novo comandante da instituição saberá cuidar do caso. "Temos de provar que o nosso banco é viável e dá lucro", comentou, antes de defender o BRB como principal operador do Fundo Constitucional de Financiamento do Centro-Oeste (FCO), hoje gerido pelo Banco do Brasil.
O nome de Jacques Pena foi divulgado em novembro do ano passado. A sabatina na Câmara Legislativa, um mês depois, contou com a aprovação de 21 dos 24 deputados distritais. Ele assume no lugar do diretor do banco Alair Martins Vargas, que ocupou a função interinamente desde que Edmilson Gama, servidor de carreira da Caixa Econômica Federal (CEF), voltou, a convite, para a esfera federal. Com a indicação, o governador optou por alguém da área (veja Perfil), mas com viés bastante político.
A confirmação dos convidados nas últimas semanas surpreendeu a equipe do BRB, que precisou da ajuda do cerimonial do governo para organizar a posse de ontem. Geralmente realizada no próprio banco, a solenidade teve de ser transferida para o Centro de Convenções Ulysses Guimarães, em um auditório com capacidade para mil pessoas. O lugar ficou lotado e muitos acompanharam os discursos em pé, nas escadas. Na saída, perto da hora do almoço, um lanchinho foi servido. "Pode ver: é água e café. O banco não tem que fazer coquetel regado a uísque", disse Pena.
Os funcionários mais antigos do BRB comentavam nunca ter visto uma posse tão concorrida. Quase metade da Câmara Legislativa — 10 parlamentares —, quatro deputados federais, secretários de Estado, prefeitos de cidades do Goiás (Buriti Alegre) e do Rio Grande do Sul (Canoas), representantes do governo federal e reitors de universidades dividiram espaço com amigos, familiares e colegas bancários do empossado. Até o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, amigo de Pena, distribuiu sorrisos e cumprimentos na cerimônia (leia mais abaixo).
A força política de um banco oficial e o perfil político-partidário atraiu a multidão à posse. Uma hora após o término da cerimônia, o novo presidente ainda recebia beijos, abraços e posava para fotos com convidados. Em entrevista exclusiva ao Correio (leia abaixo), Pena disse que sua origem petista e militante não vai atrapalhar a condução técnica do banco. Ele é ligado ao Campo Majoritário do PT, um conjunto de tendência dentro do PT ao qual pertence, por exemplo, o ex-chefe da Casa Civil da Presidência da República, José Dirceu.
Entre 2001 e 2003, Pena presidiu o Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de Brasília, um dos mais atuantes na capital. "Não sei se querido, mas conhecido por muita gente ele é", afirmou um petista amigo do novo presidente.
Quatro perguntas para - Jacques de Oliveira Pena
O BRB vai conseguir ter autonomia?
Tenho dois perfis: sou uma pessoa de inequívoca origem com vínculo político-partidário e um profissional com mais de 15 anos em cargos de gestão no setor público. A busca de influência política é para que o banco seja, mais do que comercial, uma instituição de fomento, de ações de microcrédito. No mais, teremos uma gestão profissional. Não haverá ingerência política no sentido negativo.
Qual será o maior desafio à frente do BRB?
Para se inserir no patamar de competitividade do sistema financeiro brasileiro, o BRB terá de superar suas questões de tecnologia da informação. O coração de um banco são os seus sistemas de informação e, nas gestões anteriores, essa área não foi atendida como devia.
Com a portabilidade bancária em vigor, o BRB está pronto para enfrentar a concorrência?
Sim. O atendimento que o BRB oferece aos seus clientes não fica aquém daquele que pode ser dado por outros bancos. Vamos resolver nossos problemas pontuais, porque temos consciência da importância do servidor para a instituição.
Sua posse foi concorrida. A que o senhor atribui a presença maciça de autoridades?
O banco é uma instituição importante na cidade e no governo. Sou uma pessoa de muitas relações e muitos amigos. A posse denota a importância do BRB e do papel do presidente do banco dentro do governo. O Executivo tem que se relacionar com o banco como se a instituição fosse parte dele.
Perfil
Um gestor público
Jacques de Oliveira Pena, 55 anos, nasceu em Caratinga (MG), mas mora em Brasília há 32 anos. Formou-se em história pela Universidade de Brasília (UnB) e fez diversos cursos de gestão empresarial e em administração pública. Funcionário aposentado do Banco do Brasil, ocupou os cargos de chefe da Casa Civil e de secretário de Desenvolvimento Econômico no governo Agnelo Queiroz. Também foi secretário-geral e presidente do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de Brasília, presidente da Fundação Banco do Brasil, além de integrante do Conselho Deliberativo da Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil (Previ). É casado e tem quatro filhos.
Fonte: Correio Braziliense
Copyright © 2025 Bancários-DF. Todos os direitos reservados