Com a redução nas despesas de provisão contra calotes e custos sob forte controle, o Banco do Brasil começa a mostrar resultados mais compatíveis com os dos concorrentes privados, uma das metas da gestão de Paulo Rogério Caffarelli à frente da instituição. O BB teve lucro líquido ajustado de R$ 2,515 bilhões no primeiro trimestre, alta de 95,6% na comparação com o mesmo período do ano passado. O resultado ficou em linha com as estimativa média de R$ 2,599 bilhões de analistas.
Embora ainda esteja bem abaixo de Bradesco e Itaú Unibanco, a rentabilidade do banco teve forte melhora e passou de 5,6% nos três primeiros meses de 2016 para 10,4% entre janeiro e março deste ano. Os investidores reagiram bem aos números. As ações do BB fecharam em alta de 3,12%, a maior entre os grandes bancos ontem na bolsa.
O destaque negativo do balanço veio da inadimplência, que subiu de 3,29% para 3,89% no trimestre, colocando o índice de atrasos do BB acima da média de 3,80% do sistema financeiro, algo raro na história da instituição. Além do calote de uma grande empresa, a inadimplência aumentou com redução da carteira de crédito.
O banco encerrou o trimestre com um saldo de financiamentos de R$ 688,7 bilhões, uma redução de 9,2% em 12 meses e bem distante da projeção de crescimento de 1% a 4% para este ano. Ainda assim, o banco manteve a estimativa. Embora o saldo do crédito tenha diminuído, as concessões de novos financiamentos no banco aumentaram em torno de 20% desde o início do ano, segundo Caffarelli. "A retomada do crédito vai acompanhar o ritmo de recuperação da economia", disse.
Mesmo com uma carteira menor, o banco conseguiu aumentar em 0,8% a margem financeira, após o trabalho do banco em melhorar os spreads de crédito. "É possível elevar o spread e reduzir os juros", afirmou. Uma das medidas que o BB tem tomado nessa linha é o aumento da exposição em linhas com margens melhores, mas com boas garantias, como o crédito consignado e imobiliário. Nas linhas de pessoas jurídicas, o banco tem optado por dar prioridade a produtos de curto prazo e com garantia em recebíveis. O banco também tem intensificado o trabalho de reconquistar clientes que operam com concorrentes.
A grande contribuição para o lucro do trimestre veio das despesas com provisão, que caíram 30,5%, para R$ 5,6 bilhões, mesmo com a inadimplência maior. "Os resultados do primeiro trimestre indicam que a qualidade dos ativos do banco está próxima de um ponto de inflexão", escrevem os analistas do UBS, em relatório.
As receitas com tarifas também ajudaram no resultado, com uma evolução de 12,3% em relação ao primeiro trimestre do ano passado. Um dos destaques foi a área de fundos, com um crescimento de 29,3%. Questionado sobre o impacto da negociação para a compra da XP Investimentos pelo Itaú, Caffarelli disse que cada instituição deverá adotar uma estratégia própria em gestão de recursos de terceiros. "Essa arena vai ter diversos tipos de modelo", disse, ao acrescentar que o banco foi o primeiro a adotar a plataforma aberta de investimentos para clientes private (altíssima renda).
Depois de implementar um plano de aposentadoria incentivada e de redução de agências, o BB registrou uma redução de 0,4% nas despesas administrativas no primeiro trimestre, na comparação com os três primeiros meses do ano passado. "O controle de custos mais uma vez se destacou, particularmente se levarmos em conta que o BB tem mais limitações do que um banco privado", afirmam os analistas do BTG Pactual, em relatório.
Além de reforçar o objetivo de aproximar a rentabilidade do banco da alcançada pelos concorrentes, o presidente do BB reiterou a meta de alcançar um índice de capital principal de 9,5% em 2019, sem a necessidade de venda de ativos ou aporte do Tesouro Nacional. O indicador que mede a capacidade do banco de emprestar em relação a seu patrimônio encerrou o trimestre em 9,2%.
Sobre o processo de venda do Banco Patagonia, controlado pelo BB e que opera na Argentina, Caffarelli reafirmou que o objetivo é fazer uma oferta de ações da instituição. Porém, disse que não deixará de analisar eventuais propostas de interessados em comprar a instituição. "Isso não significa que haja algo em andamento", afirmou, ao declarar que não há um prazo para a conclusão da operação.
O presidente do BB disse ainda que o processo de auditoria do processo de licitação das agências de publicidade que vão atender o banco está em fase de conclusão. O resultado do processo, que coloca a agência Multi Solution em primeiro lugar, vazou e foi registrado em cartório pelo jornal "Folha de S.Paulo". A licitação não foi suspensa à espera da conclusão da auditoria interna.
Fonte: Valor Econômico
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