

“...em homenagem ao Coronel Brilhante Ustra, que a presidente conhece bem...” foi um trecho do discurso do deputado federal Jair Bolsonaro, ao votar pela admissibilidade do processo de impedimento da presidenta Dilma Roussef, referindo-se ao torturador de Dilma no período em que ela esteve presa por lutar contra a ditadura civil/militar instalada no Brasil entre 1964 e 1985, e clara apologia á ditadura e ao golpe.
A fala do grotesco parlamentar simboliza o que foi a sessão da Câmara Federal ocorrida na tarde/noite do domingo,17 de abril, que culminou por admitir a abertura de processo de impedimento de Dilma, processo a ser conduzido pelo senado federal.
O que se viu foi um festival de canalhices que incluíram citações religiosas em um estado laico, referências pueris a familiares, referência etéreas a uma massa amorfa que aquelas excelências chamam de povo brasileiro, elementos que ilustraram o descomprometimento dos distintos parlamentares com a verdade e com a gravidade do que é um processo que deveria se pautar por uma observância estrita do ordenamento jurídico brasileiro, bem como da constituição, que elenca de forma nítida o que são crimes de responsabilidade, dentre os quais não se enquadram as ditas “pedaladas fiscais”, que nada mais foram do que adiantamentos de pagamentos de bolsa família e seguro desemprego pelos bancos oficiais, valores devidamente repostos, e com juros, quando coube. Ou seja, culpa-se a presidenta por não atrasar bolsa família e seguro desemprego, benefícios para quem precisa.
Evidencia-se o circo que se tornou a sessão, como bem lembrou o jornal espanhol El país, quando praticamente nada se falou, nos discursos das excelências, sobre o que estava em discussão: os supostos crimes cometidos pela presidenta.
O mais lastimável é que, o povo que se dignou a assistir àquele festival grotesco, grosseiro e deprimente, permeado de hipocrisia, teve de ouvir discursos lamentáveis que podem ser simbolizados pelo do deputado federal por Brasília Alberto Fraga, que bradou votar sim ao processo (golpe) por ser contra a corrupção no governo federal. Aí reside uma hipocrisia descomunal visto que o referido deputado foi secretário do governo mais corrupto do DF, o de Arruda, da Caixa de Pandora, também pesar contra o deputado denúncias de que chefiaria um esquadrão da morte em Brasília quando estava na ativa da PM distrital, conforme se divulgou na imprensa da época, estar respondendo a processo no STF, e ainda ser acusado de ter recebido R$1,7 milhão de propina do ex senador Gim Argelo, preso pela operação Lava jato.
Ainda nos anos 50, comentava-se que o estadista francês Charles De Gaulle, teria dito que o Brasil não era um país sério. Com as demonstrações do festival do dia 17, certamente a Câmara Federal deu mais uma enorme contribuição a este tipo de visão sobre o Brasil. Países como Alemanha, França, Inglaterra, Espanha, Holanda, Japão, Canadá, Estados Unidos e até mesmo Portugal, sobre quem o brasileiro faz tanta chacota, devem realmente concluir que não se pode levar a sério quase a totalidade da classe política do Brasil, especialmente porque o que foi feito naquele dia macula de forma indelével a constituição brasileira com um golpe articulado pelo denunciadíssimo presidente da Câmara (Eduardo Cunha), pelo vice-presidente (Michel Temer) citado em delações da Lava jato e pelo líder da oposição (Aécio Neves) multidelatado também em esquemas de corrupção.
Definitivamente, o povo brasileiro cada vez mais desacredita na política, e o mundo vê o Brasil com espanto. Por mais que inúmeros cidadãos e cidadãs honrados deste país destaquem o nome do Brasil no exterior com conquistas em diversos campos, nossos políticos, especialmente aqueles que se alinham na oposição ao atual governo, contribuem para o escárnio de que o Brasil é vítima interna, e principalmente, externamente.
Antonio Eustáquio Ribeiro é Diretor do Sindicato
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