Por Rafael Zanon*
A direção do Banco do Brasil passa por um momento delicado, em que busca a todo custo cumprir a meta insustentável imposta pelo Conselho de Administração da empresa, que é composto, em sua maioria, por representantes do governo federal.
E repassa para os funcionários a cobrança abusiva, com a cadeia de pressão chegando até a ponta, na rede de agências.
Os frequentes escândalos envolvendo a denúncia de utilização de mecanismos ilegais na venda de produtos bancários deveriam servir como aprendizado para que houvesse um ataque à raiz do problema, que é a cobrança de metas abusivas.
Vários casos na história nos ensinam que a competição dentro de empresas financeiras aumenta a possibilidade de ocorrência de fraudes ou ilícitos. Lembremos das hipotecas e dos subprimes.
Estimulando ainda mais a busca desenfreada de vendas, alguns processos seletivos no Banco do Brasil estão levando em conta apenas as vendas de seguridade, deixando de lado a análise de competências fundamentais do trabalho bancário, como o relacionamento com o cliente, a ética profissional, a cooperação entre colegas, o conhecimento das instruções. O bancário tem um papel fundamental na sociedade que é muito maior do que a simples venda de produtos de seguridade.
Comissão de Valores Mobiliários suspende a oferta inicial de ações da BB Seguridade: mais um sinal do esgotamento do modelo de metas abusivas
A suspensão por 30 dias da oferta pública de ações da BB Seguridade mais uma vez trouxe à tona o problema das metas abusivas, já que a decisão da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) está bem amplificada pela mídia geral, pela importância dessa operação de abertura de capital na Bolsa de Valores de São Paulo. A CVM divulgou que a suspensão se deu por divulgação de material publicitário irregular, supostamente enviado por gerentes da instituição.
Ainda não foi esclarecido se esses supostos contatos tenham sido praticados de maneira isolada ou tiveram uma orientação centralizada por parte da empresa.
Centrais de venda de produtos com gerentes são constantemente formadas pelas superintendências regionais. Oficialmente, essas centrais não existem, mas, na prática, funcionários realizam ligações telefônicas e tentam vender produtos e serviços bancários.
Mais fraudes acontecerão se as metas continuarem abusivas
É necessário que haja um estímulo maior nas práticas laborais voltadas ao relacionamento com o cliente, a educação financeira e, consequentemente, uma oferta de produtos. Essa trilha, pela pressão das metas, está sendo aplicada de ordem invertida, a oferta de produtos sendo a prioridade.
Já temos diversos exemplos nos mostrando que esse modelo não se sustenta, e cada crise nos fragiliza mais. É necessária a união de todos os funcionários, inclusive os diretores, vice presidentes e presidente, para lutar pelo fim das metas insustentáveis e por um banco público que cumpra seu papel social.
Rafael Zanon é diretor do Sindicato dos Bancários de Brasília
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