

A corrupção, tema convergente entre as manifestações dos dias 13 e 15 de março, foi citada pela maioria dos entrevistados da pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha no último domingo (15).
Em resposta a esse dado, o Poder Executivo entregou simbolicamente nesta quarta-feira (18) ao Congresso Nacional, o chamado ‘pacote anticorrupção’, conjunto de propostas para inibir e punir irregularidades na administração pública.
Entre os principais pontos, o pacote inclui criminalização da prática de caixa 2, aplicação da Lei da Ficha Limpa para todos os cargos, alienação antecipada dos bens apreendidos, responsabilização criminal e confiscos de bens dos agentes públicos.
Para o governo, é preciso que a investigação seja rápida e efetiva, garantindo a proteção do inocente ou do injustiçado.
Outro ponto de convergência levantado pela pesquisa se refere à avaliação negativa que a sociedade tem do Congresso Nacional: ruim ou péssimo para 61% dos que marcharam na sexta, e 77% entre os manifestantes do domingo.
Um outro tema comum, segundo a coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos e Cidadania da UnB, Nair Bicalho, é a defesa da Petrobras enquanto empresa brasileira. ‘Acredito que nenhum de nós, brasileiros, quer ver a Petrobras privatizada. Justamente ela que possui o maior número de reserva de petróleo do mundo’, destacou.
Porque as manifestações não foram conjuntas
As duas manifestações ressaltaram uma divergência gritante nos perfis dos manifestantes, provocando as mais diversas opiniões na imprensa e nas mídias sociais.
Organizada por algumas centrais sindicais, a manifestação do dia 13 reuniu, segundo a Polícia Militar de São Paulo, 21 mil pessoas. Para o Datafolha, foram 41 mil manifestantes. Desses, 25% disseram que foram às ruas contra a perda de direitos trabalhistas; 22% por aumento salarial para os professores; 20% se disseram motivados pela reforma política; e 18% em defesa da Petrobras. Além dessas bandeiras, os manifestantes defenderam a democracia, a Caixa 100% pública, a reforma política e a democratização dos meios de comunicação.
Segundo o instituto, 71% dos manifestantes do dia 13 votaram na presidenta Dilma Rousseff; 39% preferem o PT como partido político; 68% têm nível superior; e 48% foram a uma manifestação pela primeira vez, apontou a pesquisa. O governo recebeu avaliação favorável de 37%; regular de 35%; e ruim ou péssimo de 26%. O Congresso Nacional foi classificado como ruim ou péssimo por 61% dos manifestantes da sexta-feira; regular por 29%; e ótimo ou bom por 8%.
Sobre as manifestações realizadas na Avenida Paulista, no último domingo, o Datafolha confirmou que a maioria dos manifestantes (82%) declarou ter votado no Aécio Neves. Para a Polícia Militar de São Paulo, o ato atraiu 1 milhão de pessoas. Para o Datafolha, foram apenas 210 mil.
Alguns desses manifestantes exibiram várias faixas pedindo intervenção militar e disseram que o principal motivo que os levaram às ruas foi a corrupção (47%), outros disseram que foram pelo impeachment de Dilma (27%), contra o PT (20%) e contra os políticos (14%). Outro fato interessante é que a grande maioria (74%) disse que era a primeira vez que participava de um protesto.
Ainda como diferença entre os dois protestos destacam-se a renda dos manifestantes e a avaliação em relação ao governo federal. Enquanto na sexta, 12% declararam receber mais de 10 salários mínimos; no domingo, 41% disseram ter renda maior que 10 salários. Sobre a aprovação de Dilma, no domingo, o governo era desaprovado por 96% do público. Na sexta, por 26% dos presentes. A pesquisa também mostra que 48% dos manifestantes do dia 13 foram às ruas pela primeira vez.
Cobertura tendenciosa
Um tratamento diferenciado também pode ser observado na cobertura das duas atividades. As imagens da Rede Globo e dos principais jornais do país deram destaques aos cartazes que pediam o impeachment de Dilma e demonstravam ódio ao PT, mas a pesquisa do Datafolha revelou que o pedido de afastamento da presidenta foi mencionado por apenas 27% dos simpatizantes do PSDB e 20% dos que protestaram contra o PT.
O que se observa é uma atuação tendenciosa da mídia na divulgação das manifestações. ‘Nunca vi uma manifestação anunciada com tanta antecedência e tão bem organizada. O que está em jogo é a desestabilização do governo para que a oposição possa se preparar para as eleições de 2018’, analisou Nair Bicalho.
A imprensa internacional não embarcou no discurso da grande mídia brasileira. A revista Forbes chamou os atos de “festival do ódio”. Já o jornal britânico The Guardian destacou a influência da grande mídia na mobilização, enfatizando que os protestos são ‘manifestações da direita, de um grupo mais branco e mais rico’.
Reforma política
Reivindicada por grande parte dos que foram às ruas na sexta, a reforma política também está na pauta do sindicato, que defende a realização de uma reforma política para por fim ao financiamento de empresas. O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, afirmou nesta terça-feira (17), que cabe ao Congresso Nacional alterar a legislação, levando em conta também a forma de eleição dos deputados.
Em dezembro de 2013, a maioria dos ministros do STF foi favorável à ação da Ordem dos Advogados do Brasil para acabar com as doações de empresas a campanhas. Em abril do ano passado, Gilmar Mendes, que é contrário à mudança, pediu vista do processo, adiando a decisão final. A retomada desse julgamento depende de Mendes liberar seu voto. Ainda não há previsão para isso.
Antes disso, se o Congresso mudar algum aspecto da lei ou da própria Constituição que altere o financiamento, a ação da OAB fica extinta no STF.
Rosane Alves
Do Seeb Brasília
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