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7 de Março de 2017 às 21:14

8 de março unificadas: as mulheres do DF e Entorno vão parar!

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No dia 8 de março de 1908, milhares de trabalhadoras da indústria têxtil marcharam em Nova Iorque por melhores condições de trabalho, salários justos e direito ao voto. Inspirada por essa luta, Clara Zetkin, líder socialista alemã, convocou as participantes da Conferência Internacional das Mulheres Trabalhadoras, em 1910, a organizar um Dia Internacional das Mulheres Trabalhadoras. Em 1917, milhares de russas, trabalhadoras e companheiras de soldados, tomaram as ruas no 8 de março para exigir paz e pão. Com sua ação revolucionária, iniciaram um levante que daria fim o regime autoritário no país. O 8 de Março nasceu, assim, como um dia de luta e resistência das mulheres, por igualdade, respeito e liberdade.

Em 2017, cem anos depois desse levante, as mulheres brasileiras vão às ruas novamente. Num contexto político agravado pelo golpe parlamentar, jurídico e midiático, de cunho misógino, que afastou do poder a Presidenta Dilma Rousseff, a união das mulheres se mostra ainda mais urgente. Em conluio com o Congresso, o governo ilegítimo de Temer comanda diariamente, sem diálogo com o povo, reformas que afetarão principalmente a vida das mulheres.

A ofensiva conservadora que vemos no Brasil também se manifesta em vários países. Na Europa, o crescimento da extrema-direita repudia imigrantes e refugiadas/os. Na América Latina, governos progressistas são substituídos por gestões explicitamente de direita. Na Síria, a guerra civil parece não ter fim e lá, como em muitos países africanos, o fundamentalismo religioso faz estrago. Coroando toda essa barbárie, no país mais influente do mundo, vence as eleições Donald Trump, que não tem vergonha de defender ideias racistas, xenófobas, machistas e LGBTfóbicas.

Porém, no centro da resistência contra tamanho retrocesso, estão uma vez mais as mulheres. A Marcha das Mulheres em Washington, realizada um dia após a posse de Trump, foi a maior manifestação da história dos Estados Unidos. Lá, também as mulheres negras têm sido protagonistas na luta contra o racismo de Estado manifestado na violência policial. Na Argentina, o movimento Ni Una Menos nos inspira no enfrentamento à violência contra as mulheres.

No Brasil, a mobilização cresce a cada ano. Em 2015, a “Primavera Feminista” ocupou as ruas do País para dizer não ao machismo, ao assédio e ao projeto conservador de Eduardo Cunha que dificultava o acesso ao aborto legal por vítimas de estupro. Em Brasília, mais de 70 mil mulheres do campo e da floresta fizeram a Marcha das Margaridas. A cidade também foi enegrecida pela Marcha Nacional das Mulheres Negras, composta por mais de 50 mil mulheres unidas contra a vil combinação do racismo e do machismo, que faz das mulheres negras as maiores vítimas do feminicídio, da violência, do subemprego, da pobreza e da falta de acesso à saúde e à educação.

Nossa luta continua! Neste Dia Internacional das Mulheres, nós, mulheres do campo, da cidade, das águas e das florestas, sairemos mais uma vez às ruas e mostraremos a nossa força! Vamos parar nossas atividades e seguiremos em marcha, juntas, livres e unidas contra todo sistema opressor, mantenedor do patriarcado. Se nossas vidas não importam, que produzam sem nós! Nenhum direito a menos! Nem uma a menos! Pelo direito aos nossos corpos e às nossas vidas! Contra o machismo, o racismo, a lesbofobia, a transfobia e todas as formas de opressão.

Por que paramos?

* Basta de feminicídio: o Brasil está entre os cinco países com maior índice de homicídios de mulheres, segundo o Mapa da Violência 2015. No DF, a taxa desse crime cresceu 41,1% entre 2006 e 2013. Seis cidades do Entorno estão entre as cem onde mais se matam mulheres no País. As vítimas preferenciais são as negras, jovens e com baixa escolaridade. Motivado pela sensação de perda de controle sobre as mulheres, o feminicídio é fruto da sociedade opressora e machista. Lutamos pelo fim da violência contra nós! Lutamos por nossas vidas! Nem uma a menos!

* Contra a cultura do estupro: no Brasil, a cada 11 minutos uma mulher é estuprada. No DF, 60% dos estupros em 2016 vitimaram jovens com menos de 14 anos de idade. É comum culpar a vítima pela violência sofrida e tratar a agressão dos homens como algo normal. Cantadas de rua, piadas sexistas, ameaças, assédio moral e sexual dão formato à cultura do estupro, cuja violência tem consequências seríssimas para nossas vidas. Exigimos e merecemos respeito! Não é não!

* Pela legalização do aborto: o aborto está entre as principais causas de morte de mulheres no Brasil. A cada dois dias, uma mulher morre em decorrência de aborto clandestino. Esse grave problema de saúde pública mata sobretudo as mulheres em situação de vulnerabilidade: por não ter como pagar, mulheres pobres, negras e com menos escolaridade recorremos a métodos que ameaçam nossas vidas. Queremos decidir quando, com quem e em que condições exercitar nossa vida sexual. Lutamos para que a maternidade seja uma escolha consciente e feliz! Para que tenhamos acesso a serviços de abortamento seguro e humano, como qualquer pessoa que busca ajuda nos serviços de saúde! Lutamos pelo direito sobre nossos corpos! Lutamos para que nenhuma de nós morra no silêncio da clandestinidade! Nem uma a menos!

* Pelo fim da violência do racismo cotidiano contra as mulheres negras: nosso passado escravocrata nos coloca em posição subalterna, como objetos sexuais, tirando-nos o acesso a direitos fundamentais e reforçando desigualdades baseadas em gênero e raça/cor. Mulheres e meninas negras enfrentamos desproporcionalmente a combinação de múltiplas formas de discriminação e somos a maioria das vítimas em diversos indicadores de violações de direitos, inclusive nos feminicídios, forma mais acabada de violência contra as mulheres. Lutamos pelo fim do racismo! Nem uma a menos!

* Pelo fim da lesbofobia e da bifobia e pela vida das mulheres trans: o Brasil é onde mais se matam LGBTs. A sobreposição de preconceitos aumenta o risco e faz com que a violência dentro e fora de casa seja real para lésbicas, mulheres bissexuais, trans e travestis. O preconceito e o machismo institucionais (em escolas, serviços de atendimento de saúde, segurança e justiça) negam-nos o acesso ao mercado de trabalho e o direito à nossa identidade. Nem uma a menos!

* Pelos direitos das mulheres com deficiência: aproximadamente 40% das mulheres com deficiência no mundo já sofreram violência doméstica. No Brasil, somos mais de 25 milhões de mulheres com deficiência, a maioria negras. Pelo isolamento social e pelo silêncio que circunda nossos corpos e nossas vidas, ficamos ainda mais expostas a todo tipo de violência e de abuso.  Lutamos contra a ideia padrão do corpo perfeito! Lutamos para que nenhuma limitação pessoal nos faça ser tratadas como menos humanas ou menos capazes de gerir nossas próprias vidas! Lutamos para nos livrar da violência sobre nossos corpos e do silêncio sobre nossos direitos! Nem uma a menos!

* Pela vida das mulheres em privação de liberdade: o sistema carcerário reproduz as desigualdades de gênero, restringindo as oportunidades de estudo e de trabalho para as mulheres. Lutamos pelo nosso direito à educação e qualificação profissional, para que possamos ter autonomia financeira ao retornarmos à liberdade! Pela inclusão de todas! Nem uma a menos!

* Pelo fim da violência contra indígenas, quilombolas, mulheres do campo e atingidas pela mineração: principais responsáveis pela agricultura familiar e pela pecuária, somos as que mais sofremos com a atuação de grandes empresas em nossos territórios e as desigualdades trazidas por esse modelo de crescimento econômico. Lutamos para não sermos expulsas de nossas terras! Pela soberania popular sobre os territórios! Nem uma de nós a menos!

Nenhum direito a menos!

O golpe em curso no Brasil se sustenta em uma agenda conservadora que alcança todos os setores da vida social. Em vez de ser solução para a crise econômica, o ajuste fiscal aprofunda a concentração de renda, aumenta a desigualdade e promove o desemprego. Para satisfazer os donos do dinheiro, o governo golpista também avança nas privatizações, corta investimento nas políticas sociais e retira direitos, atingindo diretamente nossas vidas.

A PEC 55, já aprovada no Congresso, congela por 20 anos os gastos na educação, saúde e assistência social. As responsáveis por assumir mais sobrecarga de trabalho nesse contexto seremos nós, as mulheres. Para piorar, a reforma trabalhista - que flexibiliza os salários, aumenta jornadas e elimina direitos conquistados na CLT - fará com que trabalhemos ainda mais, por salários menores e sem garantia de benefícios, dependentes de negociação direta com os patrões.

A reforma da previdência aprofunda o ataque aos nossos direitos, pretendendo aumentar e igualar a idade mínima para aposentadoria de mulheres e homens, aos 65 anos. Ela desconsidera as jornadas de trabalho que acumulamos diariamente e as dificuldades que temos para contribuir com a previdência ao longo da vida, seja por conta dos empregos ruins, sem direitos trabalhistas, seja porque respondemos pelo trabalho doméstico e de cuidados, invisível e não remunerado.

Pelo bem viver!

Nossa luta diária é por outra sociedade, mais justa e solidária, que saiba valorizar todos os conhecimentos, em especial os ancestrais e tradicionais. É por relações que não se pautem nos ganhos individuais, na exploração e no lucro. Lutamos pela desconstrução da lógica da casa grande e da senzala! Pelo fim da cultura machista! Pela construção de uma cultura política que valorize as diferenças e não as transforme em desigualdades! Por uma sociedade em que todos os corpos, todas as etnias, todas as religiões e crenças, todas as sexualidades e gêneros, no campo e na cidade, tenham as mesmas oportunidades! Pela convivência solidária! Nossas experiências se somam para exigir um direito básico, diariamente negado às mulheres: o direito à felicidade.

Juntas temos objetivos imediatos pelos quais paramos! Juntas seguimos na construção de uma sociedade em que não precisemos mais lutar: uma sociedade de todas/os e para todas/os.

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