

“O racismo que ainda hoje perdura na forma de tratar o negro como cidadão de segunda classe, não tem justificativa”, enfatiza Humberto Adami, presidente da Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), para reforçar a importância das pesquisas de pistas e provas do período escravocrata brasileiro e de discutir a reparação aos negros. “É preciso que investiguemos a fundo os fatos da escravidão”, afirma.
Nesse sentido, Adami considera que o relatório final da Comissão da Verdade sobre a Escravidão Negra no DF e Entorno, do Sindicato dos Bancários de Brasília, (CVN/SBB) atingiu o seu objetivo ao contar a verdadeira história do povo negro. Ele sugere que a metodologia utilizada deve ser repassada a outras instituições para ampliar as comissões, aprofundar as pesquisas e para que sejam apontadas soluções.
“Não só no âmbito dos sindicatos dos bancários, mas pode-se estabelecer pequenas comissões locais e municipais. Hoje, já no meio do segundo mandato como presidente da Comissão Nacional, tenho ampla convicção de que essa tarefa é transgeracional, multi-geográfica (atinge mais de 5 mil municípios) e multidisciplinar (pode ser feita com vários olhares)”, avalia Humberto Adami.
Ele defende que “a reparação da escravidão negra tem de ser muito maior que a minúscula cota para negros em universidades, e tem de ter como referencial a reparação do holocausto judeu, que precisa ser estudada. Tudo isso tem ser pensado no resgate da memória da escravatura”.
E conclui: “O período de tortura da escravidão negra durou pelo menos 350 anos e, ainda hoje, muita gente tem verdadeira ojeriza de reparação, sequer houve pedido de desculpa por parte do Estado. Por isso, tem de partir para o ajuizamento, sim”.
Comissões nacional e local
A Comissão Nacional da Verdade da Escravidão Negra no Brasil foi criada em 2014, vinculada ao Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (CFOAB), seguindo os passos da Comissão da Ditadura, de mergulhar na história do Brasil e revelar fatos que foram apagados.
A pergunta que serviu de mote para a pesquisa que levou à constituição da Comissão Nacional foi: “Quais foram, como foram e por quem foram cometidos os crimes que tornaram realidade a escravidão negra no Brasil?”
A partir de sua linha de pensamento, foi criada em Brasília uma comissão com o mesmo propósito, no âmbito do DF e Entorno, com apoio exclusivo do Sindicato.
A CVN/SBB deu início às suas atividades no dia 30 de março de 2016 e definiu como período temporal aos estudos teóricos e de campo, o compreendido entre os anos 1.700 (quando teve início o Ciclo do Ouro) e o ano de 1960 (quando fundada Brasília). A área estabelecida para pesquisa foi a situada em um raio aproximado de 300 km do centro de Brasília pelo Estado de Goiás.
A comissão foi composta por um grupo interdisciplinar de 19 membros voluntários com diferentes capacitações profissionais e todos com uma longa trajetória de engajamento social. As atividades tiveram início em 2016. Foram visitadas as comunidades remanescentes de quilombo, entre elas a Quilombola dos Almeida, Moinho, Flores de Goiás, Kalunga, Mesquita e Cavalcanti.
"Luiz Gama, Uma Voz pela Liberdade"
Humberto Adami sugeriu ao Sindicato a apresentação, no Teatro dos Bancários, da peça sobre Luiz Gama, com os atores Deo Garcez e Nívia Helen."Luiz Gama, Uma Voz pela Liberdade" é uma biografia dramatizada, que relata fatos dramáticos e marcantes da vida do líder abolicionista Luiz Gama, que viveu entre 1830 e 1882, e sofreu todas as mazelas de se nascer numa época em que a cor da pele era sinônimo de servidão. Ele, que nasceu livre, foi vendido pelo próprio pai, um fidalgo de origem portuguesa, como escravo aos 10 anos.
Aos 17 anos obteve as provas de ter nascido livre, aprendeu a ler e a escrever e deu início, assim, à uma impressionante trajetória que, entre muitos outros feitos, inclui a libertação de cerca de 500 escravos nos tribunais - alguns relatos falam em até mesmo 1000 - além de uma intensa produção nos jornais da época. Atuava como rábula (já que exercia a advocacia sem ser advogado).
Em 2012, após 133 anos de sua morte, a OAB fez uma reparação histórica ao conceder-lhe o título de advogado.
Mariluce Fernandes
Do Seeb Brasília
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