Venda do banco Master ao BRB movimenta ‘figurões’; economista do ICL explica imbróglio

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Desde que o BRB (Banco de Brasília) anunciou o interesse em comprar o Banco Master, em março, figurões do mercado financeiro e do universo político e jurídico estão buscando influenciar a operação, cercada de muito imbróglio, que foi explicado pela economista e apresentadora do ICL Mercado e Investimentos, Deborah Magagna.

No centro do negócio, que ainda depende de decisão do BRB e aval do Banco Central, estão os banqueiros Daniel Vorcaro, controlador do Master, e André Esteves, chairman do BTG Pactual. Outros nomes como de Paulo Henrique Costa, presidente do BRB, e do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), ao qual o BRB é ligado, também estão envolvidos.

Enquanto Vorcaro fez com que o Master crescesse nos últimos anos usando estratégia considerada agressiva de venda de CDBs com alta remuneração aos aplicadores, Esteves se consolidou como um dos principais banqueiros do país desde o início da década de 1990 por um estilo arrojado de fazer negócios.

Segundo reportagem da Folha de S.Paulo, informações dão conta de que os banqueiros conversam pelo menos desde o último trimestre do ano passado a respeito da possibilidade de venda do Master ao BTG, com direito a festas luxuosas e financiamento de eventos.

Dessa forma, Vorcaro teria se aproximado de figuras como o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do PP, Antonio Rueda, presidente do União Brasil, Alexandre de Moraes, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), entre outros.

Além disso, o banco contratou como consultores pessoas capazes de expandir suas relações, como Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central, e Guido Mantega, ex-ministro da Fazenda, que marcou encontro de Vorcaro com o presidente Lula (PT).

Venda do Banco Master está sob análise

A finalização da operação de venda de parte do banco Master para o BRB depende da avaliação da instituição compradora sobre quais ativos deseja comprar. A análise está sendo feita em conjunto com a KPMG.

No início deste mês, o presidente do BRB afirmou, durante apresentação dos resultados do banco, que devem ficar fora da negociação ativos que equivalem a R$ 33 bilhões. Antes, ele havia calculado o valor em R$ 23 bilhões.

Diante desse cenário, Costa afirmou que o valor de compra divulgado inicialmente, de R$ 2 bilhões, deverá ser reduzido. Ele ainda disse que deverão ser incorporadas no negócio as operações de crédito consignado, feitas através do CredCesta, de câmbio e operações de crédito com pequenas médias empresas.

Também deve ser incorporado na operação o Will Bank, com o qual o BRB espera entrar no mercado de serviços digitais e ampliar a base de clientes nas classes C e D.

A operação de venda de ativos do banco Master pelo BRB também está sob escrutínio do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que no começo de abril informou que vai investigá-la.

De acordo com o Ministério Público, foi aberto inquérito civil para apurar as circunstâncias da operação de compra e venda das ações pelo BRB. O caso será avaliado pela Promotoria de Justiça de Defesa do Patrimônio Público e Social (Prodep).

Além disso, o Banco Central deverá avaliar os impactos da operação na estrutura do BRB. Se o BC barrar a compra de ativos que interessam ao BRB, eles poderiam ser comprados por outros bancos.

Economista do ICL explica rolo envolvendo o banco Master

A operação tem gerado a desconfiança do mercado. Isso porque o CEO do Master adotou medidas muito agressivas que inflaram o patrimônio do banco.

O mercado avalia que há um descasamento entre o fluxo do que o banco tem a receber e os compromissos que deve honrar. No curto prazo, o Master precisa honrar CDBs (Certificados de Depósitos Bancários), que somam R$ 7,6 bilhões. Mas os recebimentos do banco, no ano, somam apenas R$ 8 bilhões.

“O banco Master é conhecido por ser um banco bem agressivo na captação [de recursos]. O Master é um banco de porte médio, que captou recursos com dívida alta”, explicou a economista e apresentadora do ICL Mercado e Investimentos, Deborah Magagna, na edição do dia 14 de abril do programa.

Segundo ela, para atrair o investidor, o banco Master chegava a pagar, por exemplo, 160% do CDI (Certificado de Depósito Interbancário), que é atrelado à taxa Selic, atualmente em 14,25% ao ano.

“O problema é que o CDB vence e o banco precisa devolver dinheiro para a pessoa. Como a Selic subiu muito, isso gerou problema. [O banco] Está pagando 160% de uma taxa que está aumentando e essas dívidas vencem”, disse, reforçando que 160% do CDI é muita coisa, “principalmente no momento em que estamos esperando alta dos juros”.

Para piorar a situação, boa parte do patrimônio do banco Master não tem liquidez, ou seja, o banco não tem dinheiro fácil para pagar a dívida que está vencendo. “O Master tem dinheiro preso em precatório”, afirmou.

Outro problema é que o banco é acusado de inflar o patrimônio, como no caso da compra do banco Voiter (antigo Indusval). Na operação, o Master pagou menos pela instituição, mas colocou no balanço um valor maior. Também fez a mesma coisa com as dívidas de precatórios, colocando quanto ele achava que vale a dívida.

Uma operação de compra de dívidas do Master pelo BRB também contribuiu para “limpar” o patrimônio do banco. “O BRB comprou [parte da carteira da dívida que vai vencer] e, com isso, também inflou o patrimônio do banco Master. Injetou dinheiro no Master para comprar o banco mais caro depois”, disse Deborah.

Conta não fecha

Todos esses detalhes da operação é o que vem sendo questionado pelo mercado financeiro. Por que um banco público tem interesse em comprar uma instituição com tantos problemas financeiros?

“A estratégia agressiva de captação de recursos do Master foi deixando a dívida do banco cada vez mais cara”, disse Deborah. “Essas dívidas quando vencem, o banco precisa ter caixa para pagar. Aí é que começo o problema do descasamento do Master”, completou.

O problema começou quando o banco teve que começar a pagar essas dívidas e o caixa começou a ficar apertado.

Segundo Deborah, no primeiro semestre de 2026, os CDBs do Master que estão a vencer totalizam R$ 7,6 bilhões. “E o banco só tem R$ 3,7 bilhões em caixa com ativos líquidos [que estão mesmo disponíveis] para pagar essa dívida que está vencendo. Então, pode faltar grana no caixa para honrar esses compromissos. Esse é o problema 1 do Master”, explicou.

Assista a seguir, a partir de 20’43”:

Fonte: ICL Notícias