O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou, sem qualquer restrição, a aquisição do Banco Master pelo Banco de Brasília (BRB). A decisão, publicada em 17 de junho, ignora alertas importantes sobre os riscos financeiros, institucionais e sociais que essa operação representa para o BRB, um banco público, patrimônio do povo do Distrito Federal.
Ao analisar apenas os aspectos concorrenciais do negócio, o Cade concluiu que não haveria prejuízo à livre concorrência, classificando a operação como de baixa sobreposição de mercado. Mas essa leitura técnica e limitada desconsidera completamente o impacto sistêmico que a fusão pode ter para o sistema financeiro e para os cofres públicos. A decisão deixa de lado um ponto central: o BRB não é um banco privado qualquer. É uma instituição pública que cumpre papel estratégico no DF e no país.
A preocupação não é apenas teórica. A carteira do Banco Master, como apontado por pareceres da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), está fortemente concentrada em ativos de baixa liquidez, como precatórios. Agora, parte desse risco será transferido diretamente ao BRB, comprometendo sua solidez e segurança. Ao mesmo tempo, os antigos controladores do Master, liderados por Daniel Vorcaro, se reorganizam para manter influência sobre ativos que continuarão girando no mercado, sem o ônus dos passivos assumidos pelo banco público.
Mesmo com essas evidências, o Cade validou a separação formal entre os grupos, aceitando a criação do “Grupo Carved-Out” como se houvesse uma real independência entre as estruturas. Na prática, o mesmo grupo que está vendendo o Master ao BRB continua ativo, reorganizado e livre de riscos, enquanto o BRB herda a fragilidade, os riscos operacionais e a responsabilidade pública de sustentação do negócio.
A operação também levanta dúvidas jurídicas. O Sindicato dos Bancários do DF entende que a transação deveria ter sido submetida à Câmara Legislativa do DF, dada a natureza pública do BRB. O governo local, no entanto, optou por conduzir o processo sem qualquer debate com a sociedade ou com os trabalhadores, o que aprofunda a falta de transparência e fere os princípios da boa governança pública.
Não se trata de oposição ao crescimento do BRB. Muito pelo contrário. Defendemos um BRB forte, público e com protagonismo nacional. O que está em jogo é a forma como essa expansão está sendo conduzida: sem transparência, sem diálogo e com claros sinais de favorecimento a interesses privados em detrimento do bem público.
O Sindicato dos Bancários de Brasília reafirma seu compromisso com a defesa do BRB enquanto instituição pública sólida, segura e voltada ao desenvolvimento social e econômico do Distrito Federal. Seguiremos fiscalizando, denunciando e mobilizando os trabalhadores e a sociedade civil.
Aos parlamentares, aos órgãos de controle, ao Banco Central, à CVM, ao Tribunal de Contas e ao Ministério Público: o alerta está feito. O BRB não pode ser usado como plataforma de resgate para grupos privados com problemas de liquidez. Se não agirmos agora, o risco é vermos o banco público ser desmontado por dentro, com aval das próprias instituições que deveriam protegê-lo.
Da Redação