‘Projeto escravizadores’ revela antepassados de autoridades ligados à escravidão; família do governador Tarcísio é citada

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O Brasil enfrenta desafios históricos e contemporâneos relacionados ao combate ao trabalho escravo. Em 2023, o número de trabalhadores resgatados em condições análogas à escravidão atingiu o maior índice da década, com um aumento de 44% em relação ao ano anterior, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT). A persistência de condições degradantes em setores como agricultura, construção civil e trabalho doméstico ressalta a vulnerabilidade de milhares de trabalhadores.

Além dos desafios atuais, uma investigação inédita conduzida pela Agência Pública, intitulada “Projeto Escravizadores”, revelou conexões históricas profundas entre lideranças políticas brasileiras e a escravidão. O estudo, que teve o apoio da Pulitzer Center, mapeou os antepassados de mais de cem autoridades do Executivo e Legislativo para identificar possíveis vínculos com o uso de mão de obra escravizada.

Os resultados são contundentes: metade dos presidentes brasileiros desde o fim da ditadura, quase metade dos atuais governadores estaduais e um quinto dos senadores em exercício possuem antepassados diretos que tiveram pessoas escravizadas, utilizaram mão de obra escravizada ou atuaram para reprimir revoltas de pessoas negras e pobres no período colonial e imperial. Das 116 autoridades investigadas, ao menos 33 têm antepassados com relação direta à escravidão. Muitos dos políticos desconhecem essa parte de sua genealogia ou não mantêm relações próximas com sua linhagem ancestral.

Essas descobertas destacam como o legado da escravidão ainda permeia a sociedade brasileira, refletindo-se nas estruturas de poder e nas desigualdades persistentes. Esse histórico contribui para a manutenção de condições laborais degradantes que, ainda hoje, afetam trabalhadores vulneráveis.

No cenário atual, iniciativas e políticas públicas em diferentes estados levantam preocupações. Em São Paulo, do governador Tarcísio de Freitas, que tem antepassados ligados à escravidão, medidas como o projeto de vigilância “Muralha Paulista” e cortes no orçamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) são apontadas por especialistas como possíveis obstáculos no enfrentamento do trabalho escravo. Sem regulamentações claras e recursos adequados, mecanismos de fiscalização e combate às práticas abusivas podem ser enfraquecidos.

Apesar dos esforços de organizações da sociedade civil e do Ministério Público do Trabalho (MPT), o enfrentamento ao trabalho escravo no Brasil demanda maior articulação entre as esferas do poder público e políticas comprometidas com a proteção dos direitos dos trabalhadores. A investigação da Agência Pública reforça a importância de compreender essas conexões históricas e contemporâneas, essencial para promover a reparação histórica e a construção de uma sociedade mais justa e igualitária.

Para saber mais sobre as autoridades e suas conexões com esse legado histórico, acesse o conteúdo completo da Agência Pública:

Da Redação