A Embaixada de Ruanda no Brasil promoveu, nesta última quarta-feira, 9 de junho, juntamente com as parcerias da Associação do Bem-Estar Social – Ponto de Cultura e do Sindicato dos Bancários de Brasília, a “Noite Cultural Brasil e Ruanda: celebrando danças tradicionais”, como parte da celebração do Dia da Libertação e do Dia Nacional de Ruanda, com apresentações artísticas das expressões culturais ruandesas e brasileiras.
O evento iniciou com os agradecimentos aos presentes, às parcerias e as apresentações dos dois grupos culturais artísticos – Grupo Cultural de Ruanda e Grupo Cultural Asè Dudu, de Brasília -, ressaltando que esta é uma das celebrações da história e da cultura do povo de Ruanda, representado pelo embaixador Laurence Manzi e a embaixatriz Annet Baingana, a quem agradeceram pela presença, pelo apreço pelo nosso país e pela dedicação ao fortalecimento da relação entre as nações.
As celebrações do Dia da Libertação de Ruanda, continuou o cerimonial do evento, “saudamos calorosamente a rica e vibrante cultura de Ruanda. Sua história de superação e seu compromisso com a paz. Que a dança nos conduza ao encontro da diversidade, da união e da esperança. Que esta noite seja um tributo à diversidade e à união dos povos por meio da arte”.
Abertura com as apresentações culturais
Grupo Cultural Asè Dudu
“Muito importante prestigiar esta oportunidade única de conhecer o grupo de dança de Ruanda e de apresentar parte do nosso trabalho de percussão e dança afro-brasileira do Asè Dudu nesta abertura da Noite Cultural. Outros integrantes do nosso grupo também vieram conhecer esta cultura que é nossa descendência africana. Estamos muito orgulhosos e emocionados pelo convite”, disse a maestrina e yalorixá Betinha de Oxum, que convidou todos a conhecerem e participarem das atividades do Asè Dudu ao longo do ano, como cursos de corte e costura afro, culinária, percussão, capoeira, entre outros. Encerraram sua apresentação com o berimbau da capoeira, que representa bem o Brasil, segundo Betinha.
Grupo Cultural Tradicional de Ruanda
O cerimonial destacou este dia de apresentações marcantes e cheias de graça. O grupo apresentou a dança Intore, a dança masculina que simboliza força, orgulho e disciplina, e a elegante dança das mulheres, que reflete beleza, alegria e o espírito acolhedor das mulheres ruandesas. A Intore, como principal dança tradicional da cultura ruandesa, conta a história de Ruanda com energia, orgulho e autenticidade, conectando gerações, inspirações e plateias ao redor do mundo, celebrando o papel de Ruanda hoje.
Após assistir às apresentações culturais, o embaixador Laurence Manzi ressaltou que esta Noite Cultural representou “a felicidade porque estamos celebrando a libertação. Há 31 anos, Ruanda estava destruída, no escuro, mas agora temos motivos para dançar. É um grande prazer ter todos vocês aqui. Quero agradecer também aos nossos convidados que vieram de longe, de São Paulo e das cidades do Distrito Federal. O que eu quero dizer é um grande, grande, grande obrigado aos nossos parceiros. Porque isso aqui hoje é apenas um começo. Esta conversa hoje, com mais tempo, vai trazer mais possibilidades de levar o que vimos aqui para mais lugares, para mais longe, por mais tempo. Para mostrar o que a África é, o que a África tem e, principalmente, o que é a África da Diáspora, ou voltando à casa. É um convite para que todos conheçam e estejam conosco nesta volta à casa pelo conhecimento do continente africano”.
Associação do Bem Estar Social
Como parceira nesta Noite Cultural, o presidente Ricardo Moreira, da Associação do Bem Estar Social, enfatizou que a Noite Cultural Brasil e Ruanda, ao celebrar as danças tradicionais e contemporâneas africanas por meio do Grupo Cultural de Ruanda, inaugura o projeto de divulgação da “África de verdade”, com toda sua riqueza político-cultural, com o objetivo de que a população do Brasil e do Distrito Federal conheça de forma realista e positiva a verdadeira cultura dos povos africanos.
De acordo com a análise conjuntural internacional, Ricardo enfatizou que “o Brasil só mostra a África da tragédia e miséria. Precisa mudar esta visão colonialista e racista. Segundo dados estatísticos, Ruanda é o país que, por meio de políticas públicas, disponibiliza aos jovens, por exemplo, o Programa Pé de Meia, similar ao nosso aqui no país, como também no ensino fundamental, que exige a obrigatoriedade de crianças a partir de três anos frequentarem a escola, sob pena de multa em caso de descumprimento. Visa ainda o respeito à natureza, a partir do exemplo da conscientização ambiental, e investimento significativo no turismo. Hoje, Ruanda tem um lugar na economia africana comparado a países desenvolvidos como Singapura, no continente asiático”.
Moreira destacou que “a capital Kigali, maior cidade de Ruanda, com população estimada em 1,2 milhão de habitantes, é considerada a cidade mais limpa e com turismo maravilhoso”. Ele chamou atenção também para o fato de que esta Noite Cultural “contribuiu para democratizar e dar acesso às pessoas que estão fora dos circuitos culturais, muito menos de participarem das comemorações das embaixadas africanas, frequentadas, em sua maioria, pelas elites. Estiveram presentes nesta Noite Cultural como convidadas as Mães da Estrutural; representantes da cultura popular radicados nas Regiões Administrativas Ceilândia e Taguatinga; presenças também marcantes de personalidades ligadas aos ancestrais, numa demonstração de respeito e amor pelas nossas origens africanas e afro-brasileiras”.
Como prova de respeito e amor pela origem africana, um dos integrantes do Grupo Cultural de Ruanda recebeu de presente um colar de uma das personalidades da religiosidade de matriz africana. “É o início de muitas outras noites que serão realizadas com outros países africanos. Esta é a celebração de amizade, cultura e cooperação entre os povos”, destacou.
Ricardo dos Bonecos, conhecida referência do movimento cultural da Ceilândia, agradeceu o apoio incondicional do Sindicato dos Bancários de Brasília “pelo pertencimento contra todas as formas de opressão e racismo ao continente africano e das sociedades da Diáspora, como o Brasil. Foi uma parceria de verdade. Único sindicato em Brasília que tem compromisso com a pauta da África e das causas do povo negro, no combate ao racismo estrutural e estruturante”.
Homenagens
Em nome do movimento cultural de Ceilândia e do Distrito Federal, foram homenageados o renomado diretor de arte Humberto Pedrancini, fundador do Teatro do Galpão em 1982 (hoje diretor artístico); os representantes do Grupo Cultural Tradicional de Ruanda e do Grupo Cultural Asè Dudu, de Brasília; a deputada federal Érica Kokay; e o deputado distrital Reginaldo Veras, da Ceilândia, grandes incentivadores da cultura de Brasília, salientou Ricardo.
Ao receber esta calorosa e significativa homenagem, o presidente do Sindicato dos Bancários de Brasília, Eduardo Araújo, frisou “a importância do intercâmbio cultural Brasil e Ruanda, para que possamos contar e trazer a cultura africana, como também para termos mais contato com nossas origens, com nosso passado, é muito importante. Hoje estamos discutindo uma das embaixadas possíveis e que possamos continuar fazendo este trabalho. Começamos hoje e, em breve, devemos trazer mais”.
Como momento de confraternização, os convidados saborearam um coquetel do Restaurante Via Satélite, restaurante-escola instalado no Sindicato dos Bancários de Brasília, que traz ingredientes da estação e busca valorizar a gastronomia brasileira, com pratos que representam diferentes biomas do país, como Amazônia, Mata Atlântica, Pantanal, Caatinga, Pampas e Cerrado.
Repercussão – proposta de levar o evento para as escolas
Lucilene Costa, pedagoga, escritora e historiadora, como mulher negra expressou sua alegria em participar desta Noite Cultural: “Como professora do Distrito Federal, na tentativa da implementação da Lei 10.639/03, estar aqui hoje é fazer esta imersão com a África. É sair daqui com alguns elementos da cultura africana. E o significado disso? Para nossas crianças negras é o fortalecimento de nossas identidades, é dizer que temos cultura, que temos história. E dizer para as crianças não negras que temos história, que não existem hierarquias – nem de cultura, nem de raça, nem de cor de pele. Mas dizer que o dia de hoje foi fantástico. Este evento de cooperação cultural acredito que deva ir para as escolas, por exemplo. O que vimos hoje aqui seria uma grande oportunidade, um belo programa, uma grande chance das crianças saberem um pouco mais da cultura africana, sendo dita por eles mesmos”.
“Evento maravilhoso, mostrando que a raça negra também faz cultura, também é cultura. Foi um evento local nota 10 e um evento de ponta nota 10. Perfeito. Como é bonita a integração, a interação entre os povos. É a melanina se unindo na cultura. Nota 10. Gratidão, muito obrigada, foi um prazer estar aqui”, exaltou a poeta Regina Lima, servidora aposentada do MPF e atleta máster.
Com atenção voltada para as apresentações artísticas, Leandro Carvalho, graduando do último semestre do curso superior de Direito e futuro diplomata, considerou “muito importante estar aqui hoje, conhecendo pela primeira vez o Grupo Cultural de Dança de Ruanda. Muito importante fazer esta confraternização para disseminarmos um pouco mais a cultura e as danças tradicionais da África. Além disso, para mim é minha paixão conhecer estas culturas diversas de partes do planeta. Eu, como estudante de Direito, me formando agora no final do ano, futuramente desejo fazer o concurso para ingressar na diplomacia”.
Brenna Vilanova, do Movimento Negro Unificado do DF, expressou com um sorriso largo sua alegria de estar no evento com o embaixador de Ruanda, nesta grande celebração pela união dos povos. Aproveitou a oportunidade para convidar: “Como temos o Julho das Pretas, as mais velhas, as mais novas, todas as mulheres pretas que constroem o movimento negro para estarem no nosso Sarau, dia 19 próximo, no Armazém do Campo. Vamos todos juntos construir a luta do movimento negro”. Convocou também as mulheres negras do Distrito Federal e Entorno para a mobilização da II Marcha Nacional das Mulheres Negras por Reparação e o Bem-Viver, a ser realizada em 25 de novembro, em Brasília. A meta: 1 milhão de mulheres negras na Capital Federal.
O Coletivo de Mulheres Negras Baobá prestigiou o evento com suas famílias, para conhecerem a história do continente africano. Ruanda, país africano em comemoração por sua libertação há 31 anos, traz um significado simbólico de luta e resistência por meio da arte. O corpo em movimento expressa esta luta histórica. Em Brasília, por meio da Embaixada de Ruanda, agradecemos por nos proporcionar conhecer mais do continente africano. É o reconhecimento da descendência africana, com destaque para o papel das mulheres africanas.
Texto: Jacira da Silva
Colaboração para o Sindicato
Fotos: Ademir Rodrigues