Em resposta às demissões imotivadas capitaneadas pela BV Financeira em todo o país, incluindo Brasília, o Sindicato dos Bancários de Brasília realizou nesta quarta-feira (21) manifestação no Setor Comercial Sul (SCS) para protestar e pressionar a instituição a reverter as dispensas.
Levantamento realizado pelos dirigentes sindicais, a partir de informações dos sindicatos, aponta mais de 350 desligamentos realizados pela BV Financeira em todo o território nacional, em 2012. Em Brasília, 24 trabalhadores perderam o emprego no mesmo período.
De acordo com os representantes da empresa, as demissões ocorreram em razão de reestruturações internas na BV, devido principalmente à centralização das plataformas de crédito, com o fechamento de diversas unidades e o aumento da inadimplência que impactou sobremaneira os resultados da BV Financeira, provocando um prejuízo de R$ 656 milhões em 2011.
Diante dessa realidade, quem não teve o perfil avaliado com possibilidade de reaproveitamento ou não se disponibilizou a transferências foi desligado, argumentou a financeira. A área de negócios relacionada ao financiamento às concessionárias apresentou maior problema e foi praticamente extinta. O foco do negócio da empresa continuará sendo o multimarcas (financiamento para veículos usados).
“Com essa drástica redução do quadro, aumentam a sobrecarga e as doenças relacionadas ao trabalhado e piora a qualidade do atendimento aos clientes e usuários”, lembra Talita Régia, secretária de Formação do Sindicato dos Bancários de Brasília e coordenadora da Juventude da Federação dos Trabalhadores em Empresas de Crédito do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN).
Segundo informações apresentadas pela empresa, o novo presidente da BV, João Teixeira, busca uma mudança na cultura organizacional neste primeiro momento, mas que possui plena convicção de que a BV, já em 2013, deve voltar a expandir seus negócios. Os representantes da financeira enfatizaram que o momento agora é de focar a qualidade do crédito e não aumentar o seu volume.
Durante as negociações com a BV Financeira, o Sindicato exige o fim das demissões, mais empregos, melhor remuneração, fim metas abusivas, melhoria das condições de saúde e de trabalho, liberdade sindical e igualdade de oportunidades, entre outras reivindicações.
Convenção 158 da OIT proíbe demissão imotivada
Nos casos considerados justificados por motivos econômicos, tecnológicos, estruturais e análogos, determina-se a observância de vários critérios, que vão desde a necessidade de comprovação, por parte do empregador, da justificabilidade da dispensa, até o aviso em tempo hábil, fornecendo informações pertinentes e com abertura de canais de negociação com os representantes dos trabalhadores inclusive notificação prévia.
Esse, no entanto, não é o caso da BV Financeira, financeira criada para diversificar a atuação do Banco Votorantim, que teve parte do seu capital adquirido em 2008 pelo Banco do Brasil. Hoje, 50% do capital total do Banco Votorantim pertencem ao BB. A transação resultou em R$ 3 bilhões pagos diretamente ao Votorantim Finanças S.A. e em R$ 1,2 bilhão aportados no Banco Votorantim. A operação complementa a estratégia de crescimento do BB.
Antes da concretização da operação, foram dadas garantias de manutenção do corpo funcional e do modelo de negócio da BV Financeira, promessa não cumprida após o desfecho da transação, frustrando trabalhadores e trabalhadoras que acreditaram na preservação de seus empregos.
Como se não bastassem as demissões, os trabalhadores que continuam na BV Financeira estão cada vez mais sobrecarregados, uma vez que os postos de trabalho não estão sendo preenchidos. Sem falar na cobrança pelo atingimento das metas, que continuam abusivas e agravadas agora com a redução do número de funcionários.
O Sindicato dos Bancários de Brasília não permitirá a utilização de estratégias fraudulentas para reduzir custos e retirar conquistas dos trabalhadores. As demissões imotivadas na BV Financeira não são um fato isolado. É uma prática recorrente dos bancos públicos e privados que tentam burlar as regras do sistema financeiro nacional com suas diversas holdings para obterem lucros ainda mais elevados.
Com esses atos, precarizam o direito dos trabalhadores, não realizando o enquadramento profissional adequado de maneira que esses deixam de ser respaldados pela Convenção Coletiva Nacional dos Financiários, negociada pelo Sindicato dos Bancários de Brasília juntamente a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT).
Rodrigo Couto
Do Seeb Brasília