A mobilização surtiu efeito. Após o ato realizado em frente ao Matriz 1 da Caixa cobrando mais contratações, a direção do banco, num gesto de disposição ao diálogo, recebeu representantes do Sindicato, da Federação dos Bancários do Centro-Norte (Fetec-CUT/CN), da Comissão dos Excedentes do concurso de 2024. A reunião representou um avanço importante: a Caixa se comprometeu a encaminhar os questionamentos apresentados ao seu departamento jurídico, com o empenho de buscar soluções para garantir as convocações mínimas no concurso público em andamento.
Estiveram presentes na reunião o presidente da Fetec-CUT/CN, Rodrigo Britto, o diretor do Sindicato Guilherme Simões, a conselheira eleita de Administração da Caixa, Fabiana Uehara, e os integrantes da Comissão de Excedentes Marcos Rodrigo Siqueira e Alberto Loiola. Eles foram recebidos pelo diretor executivo de Pessoas da Caixa, Sidney Soares Filho, representando o vice-presidente de Gestão de Pessoas, Francisco Egidio.
No encontro, o Sindicato reforçou a necessidade de revisão do edital do concurso, que limita a formação de cadastro de reserva e impede a convocação de aprovados, mesmo com a existência de vagas ociosas. Foi reforçado o teor do documento já encaminhado ao Tribunal de Contas da União (TCU), em que o Sindicato solicita informações a respeito da inclusão formal de todos os aprovados no cadastro de reserva, bem como a reclassificação regular dos candidatos, para garantir que as desistências resultem em convocações conforme a ordem de classificação.
Foram expostos casos concretos que evidenciam a fragilidade do modelo atual do concurso. Em determinado macropolo, por exemplo, foram abertas 8 vagas imediatas e 3 para cadastro de reserva. No entanto, cinco candidatos desistiram. Isso esgota a lista e impossibilita novas convocações, o que compromete não apenas o preenchimento das vagas, mas também o cumprimento das cotas legais, como as destinadas a pessoas com deficiência (PCD) e pessoas negras.
Guilherme Simões destacou a preocupação com a transformação digital em curso na Caixa. Segundo ele, o Sindicato se posiciona a favor de a empresa buscar sua modernização e melhoria de processos, mas ressalta que isso não pode ser usado como justificativa para a diminuição do quadro de empregados. “As melhorias tecnológicas devem ser utilizadas para expandir a capilaridade do serviço público prestado e para qualificar o atendimento, gerando benefícios à população e reduzindo a sobrecarga que hoje recai sobre os empregados da Caixa”.
Ato reforçou mobilização
O avanço no diálogo com a Caixa veio na esteira do ato público realizado pelo Sindicato em frente ao prédio da Matriz I que contou com a presença de trabalhadores da ativa, representantes sindicais, parlamentares e aprovados no concurso. O objetivo foi exigir mais contratações para aliviar a sobrecarga nas unidades e melhorar o atendimento à população.
Durante o ato, Rodrigo Britto afirmou que a Caixa simplesmente diz que não quer retificar o edital, que erra e que a arrogância da direção da empresa não permite que ela se reposicione e coloque pessoas qualificadas, que merecem estar dentro da empresa que é motivo de orgulho para os brasileiros. “A Fetec-CUT vai até a última consequência junto com os aprovados, colocando toda a estrutura, seja financeira, jurídica ou o que for, à disposição da luta”. Britto garantiu que não darão sossego à direção da Caixa e estarão também com o Sinttel e com a FITRATELP na defesa das telefonistas, “porque é um absurdo, no momento em que se discute geração de empregos no país, que uma empresa 100% pública não tenha responsabilidade com trabalhadoras que estão há 20, 25 ou 30 anos trabalhando na Caixa, sem pensar um modelo de cuidado com quem dedicou grande parte da vida à empresa”.
A conselheira eleita de Administração da Caixa, Fabiana Uehara, também chamou atenção para a sobrecarga dos empregados. “Não tem um empregado da Caixa que não tenha orgulho de ser empregado. Só que, para a gente ser empregado, nós precisamos de respeito e valorização. E isso passa por mais contratações. Hoje toda a rede está extremamente sobrecarregada”, afirmou. Ela destacou ainda que, embora a Caixa tenha lançado recentemente uma campanha contra o assédio sexual, é preciso combater também o assédio moral, que muitas vezes é impulsionado por metas abusivas e falta de pessoal.
A deputada federal Erika Kokay (PT-DF) reforçou a importância de convocar todos os aprovados no concurso. “A Caixa precisa incorporar todas as pessoas que passaram no último concurso, porque a Caixa precisa, porque o Brasil precisa, porque o povo brasileiro precisa. Que lógica tem você não cumprir nem cotas?”, questionou a parlamentar.
O presidente da CUT-DF, Rodrigo Rodrigues, relembrou o processo de sucateamento vivido pela Caixa nos anos 1990 e ressaltou que, mesmo com grande parte dos trabalhadores sendo terceirizados e estagiários, houve resistência e luta dos sindicatos para impedir a privatização do banco.
Já o representante da Comissão de Excedentes Alberto Loiola afirmou que os concursados não são inimigos da Caixa, mas aliados do bom funcionamento da instituição. “Estamos aqui para buscar a ampliação do Cadastro de Reserva, porque a finalidade do concurso é não só entregar concursados nas vagas imediatas, mas também entregar à instituição um banco de reserva para que ela possa, durante a validade do concurso, repor seu quadro de funcionários. O Bradesco está fechando agências, e todo esse pessoal vai acabar migrando para a Caixa. E aí, quem vai atender esse pessoal?”, alertou.
A expectativa agora é que a Caixa, ao analisar as questões jurídicas levantadas, encontre uma forma legal de ampliar o número de contratações e cumprir sua função como banco público.
Da Redação