Análise do Dieese revela fragilidades financeiras no Banco Master e no Will Bank

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Um estudo elaborado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) traz à tona sérias preocupações sobre a situação financeira do Banco Master e do Will Bank.

A análise foi motivada pelo anúncio da compra do Banco Master pelo BRB. Baseada em dados de 2024, aponta oito pontos críticos nas demonstrações financeiras do Banco Master e cinco em relação ao Will Bank, revelando riscos elevados para investidores e para o sistema financeiro.

O Dieese realiza fiscalizações periódicas em todos os bancos que fazem parte da base do Sindicato e, como os Bancos Master e Will Bank passariam a fazer parte do BRB, foram alvo do estudo.

Segundo o Dieese, as estratégias do Will Bank para angariar novos clientes foram muito arriscadas para a saúde financeira da instituição. Já no caso do Banco Master, “o negócio do banco como um todo está focando em risco – é um banco que faz negócios arriscados e isso pode causar muitos problemas no futuro”, como pontuou Paula Reisdorf, economista responsável pelo estudo.

Riscos para funcionário e clientes

De uma maneira superficial, visando a situação dos funcionários nas instituições analisadas, observa-se que são os bancos privados que mais estão eliminando postos de emprego bancário e, como esses dois bancos já estão em uma situação financeira complicada, esse risco fica ainda maior, podendo levar a demissões em massa. Há também risco de perda de remuneração variável (Participação nos Lucros e Resultados – PLR), porque esta depende do lucro que a empresa tem e, se ela apresenta prejuízo, os funcionários acabam perdendo uma parte importante da sua remuneração.

Já para os clientes, há risco principalmente para os que possuem mais de R$ 250 mil em depósitos no banco, porque o Fundo Garantidor de Crédito só garante o pagamento de R$ 250 mil em caso de falência de uma instituição financeira, então quem tem mais do que isso perderia seu dinheiro acima do teto.

Entendendo os principais problemas identificados no relatório

Banco Master: concentração, riscos e dependência de aportes

Entre os principais problemas destacados no relatório do Dieese estão:

  • Foco em precatórios: Grande parte da carteira de crédito do Banco Master está concentrada em direitos precatórios, ativos de baixa liquidez e alto risco de inadimplência, dificultando a conversão rápida em caixa.
  • Concentração de crédito: Cerca de 85% da carteira de crédito do banco está nas mãos dos 100 maiores devedores, um índice muito superior à média do sistema bancário, aumentando a vulnerabilidade da instituição.
  • Lucro impulsionado por eventos não recorrentes: Em 2024, 40,8% do lucro líquido do banco veio da compra vantajosa de outras instituições, um ganho não recorrente, mascarando a real capacidade de geração de lucro.
  • CDBs com taxas elevadas: O Banco Master ofereceu Certificados de Depósito Bancário (CDBs) com remunerações de até 160% do CDI, muito acima da média de mercado, estratégia que pode comprometer a rentabilidade futura.
  • Risco para o Fundo Garantidor de Crédito (FGC): Em caso de quebra, o Banco Master poderia consumir quase 38% da liquidez do FGC, órgão responsável por ressarcir depositantes.
  • Aumento dos ativos ponderados pelo risco: O volume desses ativos cresceu mais de 160% em um ano, elevando a necessidade de capital para atender às exigências regulatórias.
  • Dependência de capitalização: O banco precisou de sucessivos aportes de capital — R$ 1,6 bilhão em 2024 — para manter sua estabilidade, além de emissão de dívidas subordinadas.
  • Concentração em fundos de investimento: Mais de 30% dos ativos do Banco Master estão aplicados em fundos, muitos de baixa liquidez e com avaliação contábil pouco transparente.

Will Bank: prejuízos acumulados e problemas regulatórios

A análise também aponta fragilidades no Will Bank:

  • Prejuízos sucessivos: A Will Financeira acumulou prejuízos em 2022 e 2023, só revertendo o fluxo de caixa em 2024 após movimentações extraordinárias.
  • Desenquadramento no Índice de Basileia: O índice, que mede a capacidade de absorver perdas, ficou abaixo do mínimo regulatório exigido pelo Banco Central em vários momentos.
  • Fragilidade estrutural: Apesar do aumento no ativo total, o patrimônio líquido do Will Bank cresceu de forma insignificante, indicando fragilidade financeira.
  • Prejuízos da Will Pagamento: A divisão de pagamentos do grupo acumulou quase meio bilhão de reais em perdas entre 2021 e 2023, afetada por inadimplência e altos custos operacionais.
  • Irregularidades apontadas pela auditoria: A auditoria destacou problemas como a má contabilização de dívidas, falta de evidências sobre ativos registrados e graves incertezas sobre o valor de ativos judiciais negociados.

Por fim, a análise do Dieese acende um alerta para os investidores e para o mercado financeiro sobre a situação do Banco Master e do Will Bank. A alta concentração de riscos, a dependência de capitalizações sucessivas e as fragilidades operacionais podem comprometer a sustentabilidade das instituições no médio prazo.

Stéffany Santos
Colaboração para o Sindicato