Cerca de dois milhões de trabalhadores perdem suas vidas no trabalho, anualmente. Dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT), órgão das Nações Unidas, que instituiu o Dia Mundial em Memória às Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho, em 28 de abril, revelam que, por dia, são cinco mil mortes, o que significa três vidas perdidas a cada minuto. De acordo com a OIT, a cada ano, são registrados 270 milhões de acidentes de trabalho e 160 milhões de casos de doenças ocupacionais.
Durante o ano de 2013, no Brasil, foram registrados no INSS quase 720 mil acidentes de trabalho. Comparado com 2012, o aumento foi de 0,55%. O total de acidentes registrados com Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT) aumentou em 2,30% de 2012 para 2013. Desses, os acidentes típicos representaram 77,32%; os de trajeto 19,96% e as doenças de trabalho 2,72%. Nas doenças de trabalho, a faixa de idade de maior incidência foi a de 30 a 39 anos, com 33,52% do total de acidentes registrados.
Dados do Ministério da Previdência Social apontam que, em 2013, nas doenças de trabalho, o setor de atividades financeiras teve participação de 17,72%. Os CIDs (Classificação Internacional de Doenças) mais incidentes nas doenças do trabalho foram lesões no ombro, sinovite e tenossinovite e dorsalgia, com 21,91%, 13,56% e 6,36% do total.
A Previdência Social concedeu, em 2013, 5,2 milhões de benefícios, dos quais 86,7% eram previdenciários, 6,5% acidentários e 6,8% assistenciais, num total de R$ 5,1 bilhões. Comparado com o ano de 2012, a quantidade de benefícios concedidos cresceu 50%.
Bancários lideram pesquisa de adoecimento no trabalho
Pesquisas indicam que os bancários estão entre as categorias de trabalhadores que mais adoecem, tanto mental como fisicamente. Observa-se que as doenças relacionadas ao trabalho crescem proporcionalmente à lucratividade dos bancos. A prática de constantes constrangimentos psicológicos, associada à cobrança abusiva de metas, é apontada pelos trabalhadores como a principal causa de desgaste mental e adoecimento no trabalho.
“A prevenção é fundamental, não só contra acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, mas também para evitar a invalidez dos trabalhadores já adoecidos. Isso é importante porque é grande o número de funcionários que não recebem a devida atenção e respeito do banco quando do retorno ao trabalho”, ressalta o presidente do Sindicato, Eduardo Araújo. Por isso, segundo ele, o Sindicato mantém uma luta constante por melhores condições de trabalho.
Araújo, que é bancário do Banco do Brasil, observa que a causa dos problemas está na violência organizacional, que leva o empregado ao adoecimento, ao afastamento do trabalho, ao isolamento social e pode até desencadear o suicídio.
É o caso de Janete*, 28 anos, bancária há sete. Com cerca de três anos de banco, ela começou a sentir dores intensas pelo corpo todo e insônia constante. Procurou ajuda médica, fez exames variados e nada de anormal foi acusado. Encaminhada ao reumatologista, começou a tomar antidepressivos. As dosagens da medicação eram sempre aumentadas, mas os incômodos persistiam.
No ano passado, Janete foi encaminhada ao psiquiatra e teve a confirmação de depressão. E durante uma nova crise, o laudo médico apontou incapacidade para o trabalho. Desde então, a bancária está afastada do banco onde exerce a função de assistente de gerência.
O ritmo intenso de trabalho e a constante pressão adoeceram Janete. “Já cheguei a fazer 80 horas extras por mês. Inúmeras vezes, eu entrei às 6h e saí às 22h, e sem pausa para descanso. Batia o ponto e continuava a jornada”, conta.
Dor da alma
Além desses transtornos no trabalho, Janete sofria discriminação por parte de seu chefe, por estar acima do peso considerado ideal. “Ele dizia, com frequência, que eu não estava de acordo com o padrão de beleza para trabalhar em um banco”, lembra. Por conta disso, ela decidiu fazer a cirurgia bariátrica e perdeu peso. No entanto, isso não foi a solução para os problemas dela.
Atualmente, Janete faz tratamento com psiquiatra e psicólogo e toma medicações. “Mas ainda continuo com os sintomas da depressão”, lamenta. Segundo ela, o marido lhe dá total apoio, embora a vida social tenha sido prejudicada por causa da doença. “Não sinto vontade de sair. E os amigos foram se afastando”, reclama.
A bancária sabe que em algum momento terá de retornar ao trabalho. “Se for mesmo necessário, eu terei de retornar, mesmo não estando curada, porque preciso do emprego”. E faz um alerta aos bancários: “Cuidem-se. Para o banco, vocês são apenas mais um número”.
LER/Dort
Quando completou quatro anos de banco, na função de caixa, Diego*, 42 anos, e bancário há mais de 20, começou a sentir sintomas como dormência nas mãos, fraqueza muscular e muita dor, o que foi diagnosticado como tendinite (inflamação dos tendões) e síndrome do túnel do carpo (compressão do nervo mediano na altura do punho).
Essas enfermidades pertencem ao grupo das Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (Dort). Por conta deste diagnóstico, ele se afastou do trabalho e foi reabilitado em outra função pelo INSS.
Em 2007, Diego teve uma forte crise e foi, novamente, afastado por um ano. E, de vez em quando, isso se repete, embora por períodos mais curtos. O último afastamento durou três meses. Ele atribui a doença ao esforço repetitivo por excesso de trabalho e à falta de tempo para recuperação. E observa que os prejuízos são muitos.
O bancário, que tem acompanhamento com fisioterapeutas e toma muitos medicamentos, lembra que a doença interfere muito na qualidade de vida. Como exemplo, Diego cita: “Durante a crise, não conseguimos dirigir longas distâncias, segurar um objeto, pentear os cabelos, além da dor intensa, incluindo fraqueza muscular”.
Por que o dia 28 de abril?
Em 28 de abril de 1969, a explosão de uma mina nos Estados Unidos matou 78 trabalhadores. A tragédia marcou a data como o Dia Mundial em Memória às Vítimas de Acidentes do Trabalho. Encampando essa luta, mas com foco na prevenção, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) instituiu, em 2003, o 28 de abril como o Dia Mundial de Segurança e Saúde no Trabalho. No Brasil, a data foi reconhecida oficialmente em 2005.
*Nomes fictícios para preservar a identidade dos bancários
Mariluce Fernandes
Do Seeb Brasília