A participação do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, na audiência pública realizada na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara dos Deputados nesta terça-feira (9) gerou mais dúvidas do que esclarecimentos. Ao comentar a polêmica operação de compra do Banco Master pelo BRB, Galípolo limitou-se a afirmar que a análise do Banco Central se restringe à viabilidade técnica da transação, sem avaliar sua conveniência. A declaração revela um grave equívoco de interpretação institucional e levanta preocupações quanto ao papel regulador da autoridade monetária diante de uma operação com claros indícios de irregularidade e interesses cruzados.
Diante das denúncias de triangulação de recursos, de atuação suspeita de fundos ligados ao próprio Banco Master adquirindo ações do BRB, e da ausência de transparência no processo, esperar que o Banco Central adote uma postura tecnocrática e distante da realidade é inadmissível. O argumento da viabilidade prudencial não pode servir de escudo para a omissão diante de uma operação que envolve um banco público, bilhões de reais em ativos e um processo que escapa ao crivo da sociedade.
O que se exige da autoridade monetária não é passividade protocolar, mas compromisso com o interesse público. Não se trata de interferir politicamente em operações privadas, mas de garantir que os critérios de transparência, integridade e responsabilidade sejam respeitados, sobretudo quando há indícios públicos de conflito de interesses e movimentações atípicas, como foi o caso dos fundos ligados ao Master investindo no BRB antes mesmo do anúncio oficial da compra.
A resposta dada por Galípolo aos parlamentares, de que o BC não julga a conveniência da operação, escancara a dissonância entre o que se espera de um órgão regulador em uma democracia e o que efetivamente tem sido praticado. O Banco Central não é uma torre de marfim técnica, mas uma instituição de Estado, com obrigações diante da sociedade. Quando uma transação bilionária envolvendo um banco público corre à margem da transparência, é dever do BC agir, questionar e, se necessário, intervir.
A audiência também mostrou que o Congresso está atento. Parlamentares de diferentes bancadas cobraram firmeza do Banco Central na apuração do caso, lembrando que a operação não pode ser tratada como uma negociação comum de mercado. A escala, os envolvidos e os potenciais impactos sobre os cofres públicos exigem atenção redobrada.
É inaceitável que a autoridade monetária se esconda atrás de uma linguagem tecnocrática para fugir do debate real. O que está sendo feito para garantir que essa operação, caso avance, não se torne um caso emblemático de captura institucional, desvio de função pública e fragilização da confiança da sociedade na regulação do sistema financeiro?
O Banco Central tem os instrumentos legais, técnicos e institucionais para agir. A sociedade espera e exige que os utilize.
Victor Queiroz
Colaboração para o Sindicato
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