Subnotificação esconde gravidade da Covid-19 para afrouxar quarentena

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A evolução do número de infectados e de mortes por Covid-19 tem suscitado questionamentos sobre a precisão dos dados oficiais da pandemia no país, não descartando o risco de subnotificação. De acordo com análise apresentada por pesquisadores das universidades de Brasília (UnB) e de São Paulo (USP), nesta terça-feira (14), os casos de coronavírus passam de 313 mil, enquanto o Ministério da Saúde contabiliza 23.430 mil casos de infecções.

Essa divergência de dados, que esconde a real dimensão da pandemia e é vista como uma forma de afrouxar o isolamento social, é atribuída por especialistas à baixa quantidade de testes realizados. O Brasil está entre as nações que realizam menos testes em sua população, apesar de ser o 14º país mais afetado pela Covid-19.

Infectologistas enfatizam a necessidade de melhorar a qualidade do diagnóstico. E questionam ondem estão os 20 milhões de testes rápidos que o governo disse ter comprado, lembrando que a subnotificação vai contra o que preconiza a Organização Mundial da Saúde (OMS), de fazer testagem em massa para identificar os casos positivos.

Certidões de óbitos x dados oficiais

Reportagem publicada no portal UOL revela que declarações de óbito indicam um número 48% maior de mortes por Covid-19 do que os dados oficiais apresentados pelo governo. Das certidões de óbito registradas em cartórios entre os dias 16 de março e 5 de abril, 722 apontam a doença como causa da morte, contrapondo o Ministério da Saúde, que indicava 486.

É baseado nesses dados divulgados pelo governo, aquém da realidade da propagação veloz de um vírus aterrorizante, que boa parte da população continua agindo normalmente, indiferente aos pedidos das autoridades sanitárias para ficar em casa e para evitar as aglomerações, onde podem se contaminar ou transmitir o vírus.

Flexibilização da quarentena

Além de minimizar a gravidade da pandemia, o presidente Bolsonaro adota um discurso no qual prioriza a economia do país em detrimento da saúde da população. Sem a menor cerimônia, ele ironiza quarentena e convoca as pessoas a irem para a rua. Ele mesmo, aliás, não tem respeitado o isolamento. Contrariando recomendações da OMS, os principais infectologistas e o seu ministro da Saúde, Bolsonaro tem se mostrado cada dia mais favorável a flexibilizar as medidas de isolamento adotadas por governadores para conter o avanço do novo coronavírus.

Exemplo seguido por Minas Gerais, onde o governador Romeu Zema (Novo), após encontro com Bolsonaro, decidiu flexibilizar a quarenta, e deve anunciar nesta quarta (15) a liberação de alguns setores. A medida contraria inclusive a opinião da maioria dos prefeitos do estado, que atribuem ao isolamento social a aceleração abaixo da média nacional de casos na região e também em Belo Horizonte.

O mesmo procedimento ocorre em Brasília. Pioneiro na implantação da quarentena no país, Ibaneis Rocha (MDB) começa a recuar. Em edição extra do Diário Oficial na quinta-feira (9), o governador do DF liberou a abertura de lojas de todo o setor moveleiro, da área de eletroeletrônicos e de todo o sistema S – como Sesc, Senac, Sesi e Senai. No dia 7, ele já havia liberado a abertura das agências bancárias.

Agora, esses setores se juntam às clínicas e aos consultórios médicos e odontológicos, clínicas veterinárias, supermercados, minimercados, mercearias e áreas alimentícias de feiras, que já estavam liberadas para o funcionamento.

Taxação de grandes fortunas

Para a secretária de Saúde do Sindicato, Vanessa Sobreira, o fim do isolamento social não se justifica pelos riscos à economia. “A crise econômica em tempos de pandemia pode ser combatida com políticas sociais, tal como o auxílio emergencial aprovado pelo Congresso e a concessão de empréstimos a juros baixos para pequenos empresários, entre outras iniciativas”, ressalta.

E acrescenta: “Outra possibilidade é a taxação das grandes fortunas, pauta antiga, porém sempre atual do movimento sindical”.

Vanessa complementa lembrando que, “infelizmente, com as subnotificações dos casos, muita gente ainda tem ido às agências, achando que o problema não é tão grande, e se expondo para realizar procedimentos que não seriam imprescindíveis”.

Mariluce Fernandes
Do Seeb Brasília