Previ: Acionistas da Usiminas avançam plano de reestruturação

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A entrada da Vale do Rio Doce e da Previ, fundação dos funcionários do Banco do Brasil, para o bloco de controle da Usiminas encontra-se na reta final de negociações. Fontes envolvidas na operação têm expectativa de fechar o acordo até o final deste mês. Os entendimentos vêm sendo conduzidos diretamente pelos acionistas, sem intermediação de assessores financeiros.

O acordo ganhou mais velocidade a partir de meados de abril, quando saiu o sinal verde do conselho da japonesa Nippon Steel, líder do consórcio de investidores japoneses, Nippon Usiminas, maior acionista isolada da siderúrgica brasileira. No fim do ano, declarações sobre a reestruturação societária da Usiminas desagradaram os japoneses e isso praticamente paralisou o processo.

Do lado da Vale, conforme apurou o Valor, não há resistência à manutenção da atual diretoria executiva da Usiminas, comandada por Rinaldo Campos Soares desde 1990. O executivo acaba de ser reeleito pelo conselho, com os demais diretores, para mais dois anos no cargo. Esse ambiente permitiu agilizar as negociações no último mês e meio. "Isso é uma etapa superada", disse uma fonte.

De acordo com informações, o acerto societário não terá impacto na atual gestão da Usiminas. Mas Soares, que já tem 68 anos, deverá ao final da atual gestão, com 70 anos, ascender ao conselho de administração da companhia. Um novo gestor para o cargo começaria a ser preparado nesse período.

Mas a finalização do acordo, que dará um novo perfil societário à Usiminas e tem por objetivo dar um rumo mais agressivo à companhia frente à onda mundial de consolidação e globalização do setor, ainda encontra alguns obstáculos. A pauta de discussão, no momento, gira em torno da fixação do percentual exato de participação da mineradora e do fundo de pensão no novo perfil societário da empresa. Hoje, Vale e Previ detêm juntas 38% do capital votante da companhia.

Vale com 23% e Previ com 15% estão de fora do acordo de acionistas firmado em 1998, com validade até 2013. Segundo informações das fontes envolvidas na operação, no novo desenho a mineradora e a fundação devem ficar com um bloco de ações de 10% a 15% no grupo de controle.

Atualmente, três blocos de acionistas dominam o grupo controlador da siderúrgica, que soma 53%, com pesos quase equivalentes – um liderado por Nippon Usiminas, que tem como parceiros Mitsubishi, Nissho Iwai e a família De Castro Loureiro (um das donas da Rio Negro); outro pela sigla VBC (de Votorantim, Bradesco e Camargo Corrêa); e o terceiro pelo Clube de Empregados da siderúrgica mais a família Johannes Sleumer, dona de 50% da distribuidora de aço Fasal, de Minas.

O grupo controlador já teve um pequeno arranjo neste ano, com a saída do Sudameris (ABN Amro). O banco vendeu sua participação de 1,9% para parte dos sócios. Não usaram seu direito de compra o Bradesco e Caixa dos Empregados. O Bradesco, segundo relatos, não tem intenção de ampliar sua participação na siderúrgica e a Caixa enfrenta limites legais no seu portfólio de ativos.

A Vale quer manter sua estratégia de sempre deter uma posição minoritária em siderúrgicas. A Previ aguarda ser chamada no momento certo para negociar sua posição e garantir valor para suas ações, que, como as de Vale, não têm prêmio de controle.

Além da nova modelagem societária estão em debate, entre os acionistas controladores, outros pontos importantes – a questão do direito de preferência, "tag along" e direitos de compra e de venda das ações. Para Vale e Previ é importante negociar uma porta de saída futura no negócio.
De acordo com fontes, os grupos Votorantim e Camargo Corrêa, cada um com 7,2% do capital votante, demonstraram interesse em ampliar suas participações dentro do novo desenho societário. Podem adquirir papéis da Vale e da fundação que permanecerem fora do bloco.

Conforme relatou uma fonte do setor, o acordo tem tudo para ser concretizado até a próxima reunião do conselho de administração da Usiminas, que deve ocorrer antes do fim de junho.

Um movimento recente teria feito com que a Vale tornasse suas posições mais flexíveis para viabilizar e acelerar o acordo societário: a aproximação da chinesa Baosteel à Cia. Siderúrgica Nacional (CSN), comandada por Benjamin Steinbruch. A decisão é entendida como um certo afastamento da empresa em relação à Vale, devido ao endurecimento da China e mineradora nas rodadas de negociações para reajuste do preço de minério de ferro neste ano, após a alta de 71,5% em 2005. Até agora ainda não chegaram a um acordo, passados seis meses de conversações.

Os planos da Vale para a Usiminas são ambiciosos. O objetivo é transformá-la em líder brasileira do setor, dobrando sua capacidade atual de produção de 10 milhões de toneladas, com um programa azeitado de investimentos. Esse programa incluiria três projetos, um deles já em análise: nova usina de placas, de 5 milhões de toneladas, com investimento de US$ 3 bilhões; novo alto-forno em Ipatinga, Minas Gerais (2 milhões) e outro alto-forno em uma área da Cosipa, em Cubatão-SP (3 milhões de toneladas). A usina de placas, da qual a Vale seria sócia com até 20%, pode ser montada ao lado do porto de Ubu, no litoral capixaba.
Em seguida, a meta é que a Usiminas se internacionalize, como Gerdau e CSN estão fazendo. O máximo que a empresa fez até agora foi comprar participações pequenas em siderúrgicas da Argentina, da Venezuela e do México. Esses ativos, no início deste ano, foram concentrados na Ternium, cujo controle está em poder do grupo Techint. A Usiminas detém 14%. (Vera Saavedra Durão e Ivo Ribeiro)

Valor Econômico