Parlamentares refutam privatização do BB em audiência com o presidente do banco

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A ideia de privatização do Banco do Brasil foi amplamente rechaçada pelos parlamentares membros da Comissão de Trabalho, de Administração e de Serviço Público, durante audiência pública com a presença do presidente do banco, Rubem Novaes, na tarde desta terça-feira (10).

Ciente de que se encontrava em campo nada fértil para suas ideias, Novaes tratou logo de descartar a venda do banco apontando como razões a manifestação contraria de Jair Bolsonaro e o fato de depender de autorização do Congresso.

Primeiro a se manifestar na audiência, o presidente do banco reafirmou sua posição favorável à privatização, mas disse que não acontecerá porque a decisão é política e já está tomada.

Participaram também da mesa da audiência como expositores Reynaldo Fujimoto, presidente da Associação Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil (ANABB) e Mariel Lopes, representante do Dieese. O secretário de Imprensa do Sindicato, Rafael Zanon, representou nos debates o presidente da entidade, Kleytton Morais, que se encontrava em São Paulo para negociações com a Fenaban acerca da redação do aditivo que trata da suspensão dos efeitos da MP 905 para a categoria bancária. Wagner Nascimento representou a Contraf-CUT.

Nas intervenções de parlamentares e convidados, foram destacados os números e os diagnósticos que demonstram a importância do Banco do Brasil para país. E houve duras críticas ao fato de Rubem Novaes ser um defensor da privatização do banco estando à frente da instituição. Os deputados da base governista e representantes da liderança do governo, inclusive, fizeram declarações contrárias à privatização e destacando que o banco pode ser propulsor de políticas macroeconômicas, como a redução de juros, contrariando o discurso neoliberal de Novaes e Guedes.

À direita, a deputada Erika Kokay (PT) ao lado do diretor do Sindicato Rafael Zanon

Reynaldo Fujimoto, da ANABB, apontou incompatibilidade com a liturgia do cargo. “Causa estranheza que o dirigente com o posto mais elevando no banco dissemine a ideia de venda dos ativos da empresa”, pontou.

Para o deputado Pompeu de Matos (PDT-RS), não é verdade que a venda de uma empresa pública passa, necessariamente, pela Câmara e o Senado. No caso do BB, ele entende que a privatização de subsidiárias pode esvaziar o banco a tal ponto que a decisão do Congresso perde o sentido. “Se tirar o BB DTVM e a seguridade e outros áreas relevantes do ponto de vista econômico, não sobra nada, terminou o banco, o resto não precisa passar por aqui”, frisou o parlamentar.

A autora do requerimento de audiência, deputada Erika Kokay, reforçou a denúncia ao desmonte do banco por meio da venda de ativos: “ao mesmo tempo que dizem que o BB não será privatizado, atuam pela venda de subsidiárias altamente lucrativas.”

Erika lembrou que se está falando de um banco que tem 96 mil funcionários, 68 milhões de clientes e uma atuação em 99,3% dos municípios brasileiros. Um banco responsável por financiar de 57% a 60% do total do segmento agropecuário, onde o agronegócio responde por 25% da riqueza do país. “Se contássemos apenas com a produção da agricultura familiar, ainda assim o Brasil estaria entre os 10 maiores produtores de alimento do mundo. E o crédito para a agricultura familiar é quase todo ofertado pelo Banco do Brasil”, acrescentou.

A parlamentar destacou ainda o fato de o Banco do Brasil ter alimentado o caixa da União em R$ 32 bilhões nos últimos 12 anos. Somente em 2018, foram R$ 2,7 bilhões para o Tesouro.

“Além de dar lucro, o BB é um instrumento estratégico do desenvolvimento nacional. Um banco como esse não poderia estar sofrendo declarações que visam a sua privatização. Não poderia ter na sua presidência alguém que defende a sua venda”, enfatizou.

Erika citou textualmente declaração à imprensa do presidente do banco, Rubem Novaes: “é minha opinião, não é do governo, mas eu acho que, em algum momento, a privatização do Banco do Brasil será inevitável. Com as amarras que uma empresa pública tem, vai ser muito difícil ajustamento no horizonte de dois, três, quatro anos a esse novo mundo de open banking e das fintechs”.

Para a deputada, “se você vai para todos os lugares dizer que o banco seria melhor se fosse privado, você está estimulando que a concorrência dispute em melhores condições com o Banco do Brasil. É como se a gente estivesse dormindo com o inimigo”.

Erika criticou ainda a contradição do discurso de Novaes, já que houve retirada do ar de peça de publicidade destinada aos jovens, por ordem do Planalto, além das postagens misóginas do presidente do BB na internet.

O secretário de Imprensa do Sindicato, Rafael Zanon, destacou que “a história do Banco do Brasil nos últimos 15 anos foi de crescimento, de fortalecimento, com geração de lucro e de dividendos para os seus acionistas, principalmente para o acionista principal, que é a União, em última instância, para o povo brasileiro”. E registrou que “as declarações do presidente Rubem Novaes e do ministro da Economia, Paulo Guedes, colidem com a opinião da maioria do povo brasileiro e da maioria dos parlamentares do Congresso Nacional”.

Zanon disse ainda, dirigindo-se diretamente a Rubem Novaes, que “nós, funcionários do BB, não somos bolas de chumbo, como você sugeriu. Seremos sim um empecilho a seu projeto, porque lutaremos com todas as nossas forças para impedir que o Banco do Brasil seja privatizado”.

O representante da Contraf-CUT, Wagner Nascimento, lançou a indagação: “Com números tão significativos para o Brasil, a quem interessa a privatização do BB?” E arrematou: “Com certeza, não interessa ao Brasil privatizar o banco nem as suas subsidiárias. Estamos defendendo o Banco do Brasil como empresa na sua integralidade, como patrimônio nacional”.

Evando Peixoto
Colaboração para o Seeb Brasília