Jekyll and Hyde no comando da Economia dos… Brasis

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Por Rosa Lux*

Todos sabem que não temos ministro da Educação e da Saúde: mas passa despercebido que não temos ministro da…Economia. Pelo menos não do Brasil. Para Paulo Guedes existem dois Brasis: o Brasil dos banqueiros e o Brasil…dos brasileiros.

O Ministro Guedes Jekyll preside o primeiro ministério. Para o Brasil dos banqueiros existe uma política econômica, com um estado investidor e gastador, com recursos livres e uma incondicional defesa da economia de “mercado” financeiro, embora todos saibamos que os bancos no Brasil são apenas um cartel. Já o ministro Guedes Hyde preside o ministério da economia do Brasil dos Brasileiros. O mundo é passivo e espera pelo capital estrangeiro salvador; faltam recursos; os 600,00 reais para o povo humilde são um fardo e atrapalham a “recuperação fiscal” e as micro e pequenas empresas são do mercado – que se virem – e o agronegócio é um problema…dos agricultores.

Um pequeno mergulho nestes dois países dá uma dimensão desta triste realidade de dois mundos dentro de um só país.

Primeiro, foram as operações de compras de carteiras pela CEF junto aos pequenos bancos: trinta bilhões de reais. Para se ter uma ideia, os estados e municípios receberam 60 bilhões para financiar medidas de combate ao corona vírus. Ninguém sabe ao certo quais os critérios e razões que justificam em meio a uma pandemia obrigar um banco público a comprar carteiras de bancos privados. Depois, venho a PEC-10, urdida como a salvação das pequenas e médias empresas. Hoje, se descobre que a PEC-10 se destinava tão somente a compra de carteiras inadimplidas dos grandes bancos com recursos do tesouro, o que pode facilmente chegar a casa dos 600 bilhões. O detalhe que absolutamente nenhum dos cronistas supostamente liberais lembra é que isto significa sim aumento do déficit público. Para fechar o pacote de “incentivos” (gastos é quando é para outro Brasil) os bancos públicos, comandados por Guedes Jekyll foram “instados” a emprestar mais de 200 bilhões a grandes empresas, todas naturalmente, ligadas aos grandes bancos.

Mas para o Brasil dos Brasileiros…bem a estória é outra. 10 milhões de micro e pequenas empresas estão morrendo à mingua. O crédito nunca chega a elas e, ao final porque deveria? Elas fazem parte da economia de mercado e, como comentou um banqueiro que, por sinal é um dos beneficiários da PEC-10 de Guedes Jekyll…”não se pode salvar a todos”. Os 600,00 reais de auxílio emergencial foram combatidos por ele ardorosamente, porque ao final, se “…falarmos que vai ter mais três meses…aí mesmo é que ninguém trabalha”. Guedes Hyde não esconde sua inconformidade com o auxílio e seu seguidor maior, aliás eleito presidente, não hesitou em declarar que o estado não tinha mais como pagar o auxílio. Percebendo que o congresso daria o auxílio de qualquer maneira, Guedes Hyde se calou e Bolsonaro… resolveu pegar onda e anunciar as medidas contra as quais ele lutara, como…medidas de governo.

Mas porque Guedes Hyde quer “economizar” nestas “incômodas” e caras medidas sociais? Porque Guedes Jekyll precisa de recursos públicos para a ajudar os bancos no programa de privatizações que, segundo ele salvará a economia, ao doar o estado do Brasil dos Brasileiros para o Brasil dos Banqueiros. Ao mito Bolsonaro segue-se o mito das privatizações como salvadoras do mundo. Pouco importa a realidade e a história. Um exemplo disso é o ciclo de privatizações dos anos 90. Hoje todas as empresas que foram privatizadas fazem parte da lista de maiores devedores do BNDES e demais bancos públicos. Além disso, durante o ciclo de privatizações a dívida pública saltou de 40% do PIB para 60% do PIB, a taxa de investimentos caiu – e nunca mais voltou a subir – e o Brasil quebrou sua indústria já que as estatais, tal como no Japão e a Coreia naquela época, eram os principais clientes da indústria nacional. No entanto, economistas neoliberais citam como mantra que as privatizações ´reduzem o déficit público e que a privatizações aumentam a “produtividade” da economia. Todas as referências mostram o contrário: mas para os bancos a privatizações são simplesmente negócios: o meio é mais importante do que os fins. Portanto defende-las é apenas mais uma estratégia de marketing…e mais uma missão de Guedes Jekyll para o Brasil dos banqueiros, com o dinheiro do Brasil dos Brasileiros, cujo erário é controlado por Guedes Hyde.

Enquanto isso, o Brasil dos Brasileiros espero por um ministro da economia de verdade. Que pense nos mais de mil mortos por dia, e nos hospitais estaduais e municipais que não tem mais leitos de UTI. Em 10 milhões de microempresas que empregam mais de 30 milhões de pessoas e que representam a única economia de mercado que realmente existe no Brasil. Mas isso é um problema do outro Brasil, do qual Guedes não faz parte.

*Rosa Lux (nome fictício) é economista e analista de mercado