Defender e fortalecer o papel social dos bancos públicos são as reflexões da terceira mesa de debates no 10º Congresso Distrital

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A terceira mesa de debates realizada no 10º Congresso Distrital dos Bancários do DF e Entorno discutiu sobre os desafios enfrentados pelas instituições públicas na atual conjuntura. Na discussão virtual, realizada na tarde deste sábado (31), os bancários e as bancárias demonstraram preocupação no que diz respeito ao desmonte e aos ataques protagonizados pelo governo e suas tentativas de privatizar as estatais.

O economista, historiador e bancário aposentado do BB Jean Moreira Rodrigues participou da mesa e em sua fala classificou o atual cenário de mudanças estruturais presenciadas no mundo com o acróstico VICA: volátil, incerto, complexo e ambíguo. Para Jean, as novas tecnologias têm transformado as relações de trabalho, a economia e os modelos de negócios.

“O futuro é muito mais rápido do que a nossa mente é capaz de acompanhar, e os humanos não estão equipados para esse crescimento exponencial. As mudanças ocorrem de forma rápida e em diversos espectros, como por exemplo a troca da mão de obra por inteligência artificial, dinheiro por criptomoedas etc. Essas mudanças criam então um grande paradoxo, com organizações tradicionais construídas, muitas vezes, a partir de modelos desenvolvidos há décadas ou anos atrás. Mudanças essas que representam consequências diretas no ramo financeiro”, ponderou.

Jean explicou que os bancos investem em tecnologia numa tentativa de acompanhar essas mudanças do mundo moderno. Entretanto, o processo de configuração do sistema poderá ocasionar grande impacto econômico e chegar ao colapso. Para ele, apesar dos avanços, a bancarização ainda é um problema grave.

Ele citou uma pesquisa do instituto Locomotiva que apontou que 10% dos brasileiros não têm conta e outros 11% que têm não as movimentam, sendo que, na maioria das vezes, esse percentual se refere às mulheres, jovens (18 a 29 anos), da classe E e com escolaridade até o ensino fundamental.

“Devemos direcionar a população para que entendam por que existem os bancos públicos. A literatura econômica aponta 4 fatores básicos: manter a segurança e solidez do sistema bancário; suavizar falhas de mercado; financiar projetos considerados socialmente importantes; e oferecer atendimento e acesso de pessoas menos favorecidas aos serviços. Diante deste cenário, precisamos pensar na hipótese da reconstrução do país a partir da eleição de um governo progressista em 2022. Devemos sim buscar a rentabilidade, mas sempre aproximando e reforçando a necessidade do papel social dos bancos públicos”, disse. 

A representante dos empregados no Conselho de Administração da Caixa Econômica Federal, Rita Serrano, reforçou que essas reflexões são importantes, principalmente no atual momento de ampla descapitalização dos bancos públicos. Para ela, a atuação dos bancários na linha de frente durante a pandemia de Covid-19 mostrou a importância dos bancos públicos e viabilizou a vocação social dessas instituições.

“Temos um processo de privatização das estatais em andamento, mais devido ainda a existir um apego da sociedade a nomes como BB, Caixa, Petrobras etc., essas privatizações acabam acontecendo a partir das bordas. Por esse motivo, nossa tarefa nesses encontros é ir além do posicionamento de bancários e empregados e nos unirmos à população para pensar no projeto de país que queremos, com foco no desenvolvimento e na soberania nacional e não um governo que tenta a todo custo dizimar o patrimônio público”, disse.

O representante dos empregados no Conselho de Administração do BRB, Adão Alves dos Passos, agradeceu o convite do Sindicato e ressaltou que, durante a pandemia, os bancários dos bancos públicos mostraram a importância dessas instituições. “Nossa categoria se manteve na linha de frente e não paramos de trabalhar nenhum dia. Os bancários foram os médicos da economia. Os bancos privados não atuaram justamente porque visam apenas o lucro.  Por esse motivo precisamos eleger  governantes comprometidos com a defesa dos bancos públicos”, afirmou. 

Já a representante dos funcionários do Banco do Brasil no Conselho de Administração, Débora Fonseca, afirmou que o governo Bolsonaro busca a todo custo desvalorizar os bancos e seu papel social. Debora explicou ainda que o BB, por exemplo, que possui importante papel no fomento da agricultura familiar, teve suas linhas de crédito voltadas ao segmento reduzidas ao longo dos anos.

“A atuação do BB está muito aquém do que deveria, e, ao invés de investir, o que vemos são constantes ataques [do governo] aos bancos públicos e aos trabalhadores que atuam nessas instituições. Precisamos reforçar com a população a importância dos bancos públicos e fortalecer ainda mais a categoria para que possamos lutar em defesa de bancos públicos fortes que cumpram seu papel social”, esclareceu.

“Vamos nos organizar enquanto bancos públicos e nessa linha trabalhar na defesa dos funcionários e os direitos conquistados durante os governos progressistas. Mais que nunca, precisamos atuar em várias frentes e, principalmente, reforçar nossa mobilização para continuarmos num processo de luta permanente por direitos para todas e todos. E no ano que vem, nossa maior responsabilidade é eleger um governo progressista que tenha diálogo e respeite a classe trabalhadora”, concluiu a diretora do Sindicato dos Bancários de Brasília Fabiana Uehara, que é coordenadora da Comissão Executiva dos Empregados (CEE/Caixa).

Leidiane Souza
Colaboração para o Seeb Brasília