Data para reflexão sobre a importância do povo e da cultura africanos 

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No Dia Nacional da Consciência Negra, lembrado nesta terça-feira (20), embora seja uma data para refletir sobre a importância do povo e da cultura africanos no Brasil, os trabalhadores negros não têm o que comemorar, considerando que a crise econômica, política e social no país, agravada pelo golpe de 2016, aumentou ainda mais a desigualdade racial no mercado de trabalho, conforme dados do IBGE. No sistema financeiro, o quadro permanece inalterado e os bancários negros continuam sendo minoria. E com o novo cenário político que desponta no país, tudo indica que o negro terá de enfrentar grandes desafios.  

Discriminação 

Os dados sobre a discriminação com a população negra continuam alarmantes, em pleno século 21, e nos bancos isso não foge à regra. Enquanto no Brasil os brancos representam 83% da parcela mais rica da sociedade, num país em que mais da metade da população (53,6%) é formada por negros, nos bancos apenas 24,7% dos trabalhadores são negros.

Eles não têm igual remuneração na grande maioria dos casos em que ocupam os mesmos cargos dos brancos. No cômputo geral, os salários pagos aos negros equivalem a 57,4% dos salários dos brancos. Os números são do II Censo da Diversidade, de 2014, feito pela Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) atendendo a uma reivindicação do movimento sindical. 

De acordo com o IBGE, em 2012, do total de 7,6 milhões de pessoas desempregadas no país, 59,1% eram negros e negras (48,9% pardos e 10,2% pretos, como denomina o IBGE) e 40,2% eram brancos.

No terceiro trimestre deste ano, o número de desempregados subiu para 12,5 milhões. Deste total, 64,2% eram negros e negras (52,2% pardos e 12% pretos). Já a participação dos brancos nesse contingente de desocupados reduziu para 34,7%.

Ainda segundo o IBGE, a taxa de desocupação dos que se declararam brancos no terceiro trimestre de 2018 foi de 9,4%. Já a taxa dos pardos e pretos foi de 14,6% e 13,8%, respectivamente, superiores à taxa nacional de 11,9%.

No terceiro trimestre de 2018, os pardos e pretos passaram a representar 56,3% da população fora da força de trabalho, seguidos pelos brancos (42,5%).
 
Secretário de Combate às Discriminações do Sindicato, Ronaldo Lustosa reitera que, “infelizmente, dentro dos bancos, ainda vemos poucas atitudes efetivas na luta contra as desigualdades, em especial da racial. Só o efetivo e honesto enfrentamento das discriminações pode alterar esse cenário gritante. Dessa forma, a participação de todo o corpo funcional é fundamental, e o exemplo deve vir da alta gestão das instituições”. 

Eventos em Brasília

Diversos eventos serão realizados em Brasília para homenagear a data e reforçar o discurso por igualdade racial e engrossar o coro contra o racismo.

Nesta terça-feira (20), será realizado ato-político cultural na Praça Zumbi dos Palmares, no Conic. A atividade, que reunirá movimentos sindical e sociais, está agendada para ter início às 17h. Organizada pela CUT Brasília e pelo Sindicato dos Servidores Públicos Federais no DF – Sindsep-DF, a ação é realizada em conjunto com várias outras entidades comprometidas em colaborar com a promoção de um Brasil equânime na questão racial.

A Secretaria Adjunta de Trabalho do GDF apresenta, às 10h, a PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego) sobre a População Negra no Mercado de Trabalho do DF (entre o 1º semestre/2017 ao 1º semestre/2018). A coletiva de imprensa será no SCS – Q.06 – Lote 11/10 – auditório do Ed. Guanabara. 

O Centro Cultural do Banco do Brasil apresenta Acorde! O Cinema de Spike Lee. A mostra é dedicada à extensa obra do cineasta que retirou o cinema negro do status de marginalizado até transformá-lo em parte da indústria norte-americana. Com 23 longas e quatro videoclipes, a retrospectiva chega ao DF na semana em que estreia o mais recente filme do cineasta, Infiltrado na Klan, previsto para ser lançado nesta quinta-feira (22). 

Dias 19 e 20, a Caixa Cultural Brasília recebe a Ocupação Baobá, que celebra o Dia da Consciência Negra com moda e música. Valorizando e fortalecendo as tradições do povo negro no Brasil, a programação tem início com a feira diáspora 009, cujos estandes de mulheres negras mostram ao público acessórios, decoração, livros e artesanato, entre outros produtos. No dia 20, é a vez de ver desfile da marca brasiliense diáspora 009, com peças inéditas e exclusivas. O encerramento da Ocupação Baobá (20/11) é com o show Ogum Iê! do grupo Bongar (PE). 

Homenagem a Zumbi dos Palmares

O dia 20 de novembro, que faz referência à morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, é celebrado por todo o Brasil. A data foi oficializada como Dia Nacional da Consciência Negra somente em 2011, com a Lei 12.519, mas é comemorada por ativistas do movimento negro há mais de 30 anos. E desde 2003 foi incluída no calendário escolar nacional. É momento de resistência e luta pelo fim da opressão racial.

Mariluce Fernandes 
Do Seeb Brasília