BRB: processo seletivo para a Regius é para inglês ver?

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A expressão “para inglês ver” deriva do período da escravidão no Brasil, em que o governo imperial adotava medidas contra o tráfico negreiro em obediência ao que determinava a Coroa Inglesa – mas apenas no papel, pois na realidade fazia vistas grossas aos traficantes e à vergonhosa prática permanecia no país.

Este é o sentimento que inquieta os bancários do BRB diante do processo de seleção para a Regius em curso. Senão, vejamos.

Você confiaria em um processo seletivo, presumivelmente meritocrático, se a decisão final sobre quem é mais adequado ou adequada à função cabe ao patrão? É exatamente isso que está posto neste processo seletivo para a ocupação dos cargos de Diretor(a) Presidente(a) e Diretor(a) Financeiro(a) da Regius, a gestora dos fundos previdenciários dos empregados do BRB.

Em uma iniciativa que parece moderna, baseada em um processo de “head hunters”, que em tese deveria apontar os mais qualificados para as funções, o que se materializa no edital é o estrito controle do banco sobre o resultado, uma vez que o Conselho Deliberativo da entidade, dominado pelo patrão, no caso o BRB, tem a prerrogativa inalienável de dar a palavra final sobre a seleção.

Para quem não sabe, o Conselho Deliberativo da Regius é formado por seis conselheiros, três indicados pelo patrocinador e três eleitos. Porém, um conselheiro indicado pelo patrocinador tem o direito de desempatar uma suposta votação que ficasse em 3 x 3. Daí a certeza de que esse processo pode ter a mancha de ser um jogo de cartas marcadas, em que, em uma hipotética situação de empate, o “voto de Minerva” do patrocinador poderá decidir em favor de quem este queira, mesmo que não seja o melhor qualificado ou a melhor qualificada.

Embora o papel de “conduzir” o processo de escolha da diretoria caiba ao Conselho Deliberativo, conforme determina a Resolução CNPC 35/2019, se o BRB quer um processo isento e transparente, deveria orientar “seus conselheiros” a se aterem tão somente à escolha daqueles ou daquelas que apresentarem o melhor desempenho em um processo seletivo em que se avalie a capacidade, a competência, a formação e o conhecimento. Uma maneira simples de garantir isso é o Conselho Deliberativo, dominado pelo patrocinador, assegurar que os nomes melhores avaliados na seleção serão os escolhidos pelo Conselho. Isso, claro, deixando também transparentes os resultados do processo com as notas de todos os postulantes, de forma que todos os participantes dos fundos sob administração da Regius possam saber quem realmente foi o ou a melhor classificado(a). Assim, não caberia ao Conselho “entrevistar” os candidatos. E ele pode assumir esse compromisso, a exemplo do que ocorre com os diretores eleitos ou diretoras eleitas, que têm assegurados(as) sua nomeação em caso de vitória nas urnas.

Essa seria uma forma de o Conselho Deliberativo, cujo “voto de Minerva” cabe a indicado pelo patrocinador, assegurar que não atenderá à demanda da direção do banco quanto ao nome que porventura desejar. Isso se faz necessário, considerando que os três membros indicados pelo banco podem ser “desindicados” em caso de uma “desobediência”.

Daí o porquê da indagação se você acreditaria ou não na lisura e imparcialidade desse processo.

Ainda sobre processos seletivos internos, o Sindicato tem recebido inúmeras denúncias de irregularidades e desmandos nas seleções. “Estamos buscando mais informações com o conjunto dos empregados para podermos ter elementos consistentes, que possam embasar uma atuação contundente quanto a isso, com possibilidade de acionamento da justiça e/ou do Ministério Público”, finaliza Edson Ivo, diretor do Sindicato.

Da Redação