Bolsonaro: Um piloto de patinete que pensa correr na fórmula 1

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Tragédia anunciada, o presidente Bolsonaro escancara seu total desprezo à infeliz realidade de milhões de brasileiros. “Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira, é um discurso populista”, disse ele, na manhã de sexta-feira (19), durante café da manhã com jornalistas. Ele emendou: “Passa-se mal (no Brasil), não se come bem, aí eu concordo, agora passar fome, não. Você não vê gente, mesmo pobre, pelas ruas com o físico esquelético como se vê em outros países pelo mundo”.

Para o movimento sindical, esta é mais uma lamentável declaração de Bolsonaro, que reitera o seu total desconhecimento da triste realidade de boa parte da população brasileira. “Infelizmente, apesar de sermos um dos maiores produtores de alimentos do mundo, nosso país ainda carrega uma dramática situação de fome e de extrema pobreza”, enfatiza o presidente do Sindicato, Kleytton Morais.

O dirigente sindical lembra que, em 1993, os funcionários do Banco do Brasil e da Caixa abraçaram a causa do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, fundador do projeto Ação da Cidadania, quando ele conclamou toda a sociedade a participar de um mutirão pelo combate à exclusão social e pela promoção da cidadania.

“O apelo deste grande ativista que dizia que quem tem fome, tem pressa, teve eco nos bancos. O BB, por exemplo, ampliou os Comitês da Cidadania que se espalharam por diversas regiões e ainda hoje atuam na tentativa de acabar com o flagelo da fome e da miséria dos brasileiros”, comenta Kleytton.

E ressalta: “O ano é 2019, mas o retrocesso que nos querem impor é secular atraso. Enquanto bancários, nos orgulhamos da nossa contribuição para retirar o Brasil do mapa da fome. E continuaremos avançando na luta e venceremos”.

Declaração lastimável

O filho de Betinho, Rogério Souza, considera lastimável a declaração de Bolsonaro e afirma que quem nunca passou fome, ou sequer conviveu com quem a conhece, não alcança o seu significado. “Esse tema sempre foi tabu no Brasil, um assunto inconveniente, uma vergonha que desmente qualquer cenário de desenvolvimento e crescimento de um país”.

Rogério acrescenta que, “nos anos 90, o sociólogo Betinho, com a sua abordagem escancarada, a partir de conceitos de Juarez de Castro e Milton Santos, conseguiu pautar essa discussão, mobilizar governo e a sociedade para o seu enfrentamento. Evoluímos para a popularização do conceito de Segurança Alimentar, a garantia de acesso à alimentação e a água de qualidade, em quantidade suficiente para suprir as necessidades humanas, com dignidade”.

Ex-coordenador do Fórum Mineiro da Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida a aposentado do BB, o filho de Betinho contesta: “É inaceitável que um governante, há tantos anos na política, ignore esse sofrimento de seu povo porque a quem não tem o que comer, tudo mais já lhe faltou, alimentação, moradia, saúde, educação e dignidade”.

Mariluce Fernandes
Do Seeb Brasília