Após graves denúncias de assédio sexual e onda de protestos, Pedro Guimarães pede demissão

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Pedro Guimarães não é mais o presidente da Caixa. Pressionado pelas graves denúncias de assédio sexual contra empregadas da instituição financeira, que gerou uma onda de protestos do movimento sindical, de parlamentares da oposição e das redes sociais, ele entregou o cargo no fim da tarde desta quarta-feira (29). As denúncias foram publicadas ontem pelo portal Metrópoles. Assume o seu lugar Daniella Marques, atual secretária especial de Produtividade e Competitividade do Ministério da Economia, considerada braço direito de Paulo Guedes.

Antes, na hora do almoço, ao lado de diversas entidades representativas das empregadas e dos empregados e com a participação maciça dos funcionários do prédio, o Sindicato realizou um grande ato no Matriz 1, sede do banco, pedindo o afastamento imediato de Pedro Guimarães.

Para assistir ao ato, que foi transmitido ao vivo pela página do Sindicato no Facebook, acesse https://www.facebook.com/watch/live/?ref=watch_permalink&v=441172014539423

“Estamos todos exigindo a mesma coisa: a demissão imediata dele, não apenas o afastamento”, disse Maria Gaia, diretora da Federação dos Bancários do Centro-Norte, durante a manifestação. “Em todos esses anos, nunca vi coisa tão ruim acontecendo na nossa empresa. Passamos por vários governos de todo tipo, mas essa aí!”, comentou.

Além das palavras de ordem, os participantes fizeram discursos contra o gestor e entregam flores a funcionárias do prédio.
“São fatos repugnantes que estão sendo divulgados. Os depoimentos alarmantes de assédio sexual praticado pelo presidente da Caixa Econômica contra as funcionárias foi abafado pelo governo Bolsonaro e o fato não causa espanto aos que conhecem o histórico machista e misógino de ambos”, apontou a secretária de Mulheres do Sindicato, Zezé Furtado, que também participou do protesto.

Zezé ressaltou ainda a necessidade de proteção das funcionárias que denunciaram Pedro Guimarães. “Violência contra a mulher, em qualquer nível, contraria os valores e princípios da Caixa, assim como seu histórico na promoção da igualdade e do respeito aos direitos humanos. Portanto, a direção da Caixa deve prestar assistência e apoio às mulheres vítimas de assédio”, disse.

Pedro Eugênio é lembrado

Já a secretária de Saúde do Sindicato, Vanessa Sobreira, relembrou durante o protesto a situação vivenciada pelo companheiro de luta já falecido Pedro Eugênio, que sofreu ataques e foi alvo de processo judicial por parte de Guimarães.

“Pedro Eugênio foi presidente da Fenae e colega muito conhecido e querido na Caixa. Ele foi uma liderança silenciada e processada por denunciar a má postura de Guimarães. A ação do presidente da Caixa contra Pedro Eugênio, um atuante defensor da Caixa como banco público, foi apenas mais uma prova do desrespeito e descompromisso de Pedro Guimarães com a instituição”, pontuou. A viúva de Pedro Eugênio, Isabel Gomes, esteve presente à atividade.

A deputada Erika Kokay repudiou a postura do atual presidente da Caixa. Durante sua fala, Erika reforçou que as trabalhadoras e trabalhadores e demais organizações representativas da classe trabalhadora estão atentos e em luta para não permitir a naturalização de violências.

“É muito cinismo de quem acha que as empregadas lhe pertencem [ao presidente do banco], que as pessoas lhe pertencem e que a empresa lhe pertence. Essa empresa é do povo brasileiro e não podemos permitir que o assédio sexual reine dentro da Caixa. Precisamos respirar livremente e dar as mãos para estabelecermos um profundo processo de proteção para todas as mulheres que estão denunciando a postura absolutamente inadmissível e criminosa de Pedro Guimarães”, disse a parlamentar.

Atos de assédio

Segundo informações complementares divulgadas pela TV Globo, em conversa com funcionárias que relataram episódios de assédio que sofreram de Guimarães, o presidente da Caixa pedia abraços em contextos constrangedores e deixava a mão escapar para passar por partes íntimas dos corpos delas.

As funcionárias falaram sob a condição de anonimato.

Veja os relatos:

“Eu considero um assédio. Foi em mais de uma ocasião. Ele tem por hábito chamar grupo de empregados para jantar com ele. Ele paga vinho para esses empregados. Não me senti confortável, mas, ao mesmo tempo, não me senti na condição de me negar a aceitar uma taça de vinho. E depois disso ele pediu que eu levasse até o quarto dele à noite um carregador de celular e ele estava com as vestes inadequadas, estava vestido de uma maneira muito informal de cueca samba canção. Quando cheguei pra entregar, ele deu um passo para trás me convidando para entrar no quarto. Eu me senti muito invadida, muito desrespeitada como mulher e como alguém que estava ali para fazer um trabalho. Já tinha falado que não era apropriado me chamar para ir ao quarto dele tão tarde e ainda me receber daquela forma. Me senti humilhada”.

Outra funcionária afirmou que, às vezes, o constrangimento era feito na frente de outros colegas:

“Por exemplo, pedir para abraçar, pegar no pescoço, pegar na cintura, no quadril. Isso acontecia na frente de outras pessoas. E, às vezes, essas promessas eram no pé de ouvido e na frente de outras pessoas, mas de forma com que outras pessoas não ouvissem”.

Segundo ela, o assédio também ocorria nas viagens que o presidente da Caixa faz pelo país.

“Comigo foi em viagem, nessas abordagens que ele faz pedindo, perguntando se confia, se é legal. Abraços mais fortes, me abraça direito e nesses abraços o braço escapava e tocava no seio, nas partes íntimas atrás, era dessa forma”.

Pedro Guimarães é um dos nomes mais próximos do presidente Jair Bolsonaro e estava na presidência da Caixa desde o início do governo. Costumava acompanhar Bolsonaro em viagens e participava de lives com ele.

Abaixo, galeria de fotos do ato desta quarta em frente ao Matriz 1 da Caixa, no Setor Bancário Sul:

Da Redação