10º Congresso Distrital: Bancários discutem processos tecnológicos e seus impactos na categoria

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Neste sábado (31), bancárias e bancários do Distrito Federal e Entorno deram largada a importantes discussões no 10º Congresso Distrital que, entre outros pontos, tem como objetivo definir o plano de lutas da categoria para o próximo período.

No início da manhã, além de aprovarem o regimento interno que estabelece as diretrizes da atividade, bancárias e bancários participaram da mesa de debates sobre processos tecnológicos, impactos e transformações no emprego bancário (foto acima).

No comando da mesa, o secretário de Combate à Discriminação do Sindicato, Edson Ivo. “Obrigado a todas e todos presentes que ajudarão nesta discussão e na construção do nosso 10º Congresso Distrital dos Bancários”, saudou o dirigente sindical.

A palestrante convidada foi a economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Cátia Uehara, que explanou sobre importantes reflexões sobre o tema.

Cátia explicou que, ao contrário do que muitos pensam, os avanços e as mudanças tecnológicas visualizadas atualmente no setor financeiro vêm de um longo processo de inovação com grandes ondas tecnológicas.

A primeira, do início da década de 70, com os chamados “back offices”, que correspondem ao processo “por trás do escritório”, ou seja, aquele onde não há o contato direto com o cliente. A segunda se deu com o surgimento das agências bancárias, seguidas dos postos de autoatendimento e do internet banking. E por fim, a mais atual onda em expansão veio com o setor das chamadas fintechs, que nada mais é do que empresas especializadas na oferta de serviços financeiros totalmente digitais.

Segundo Cátia, essa expansão da digitalização do setor financeiro gerou uma maior concorrência, em que os bancos precisam se adequar ao novo modelo, por meio dos investimentos em inovações digitais, como inteligência artificial, chatbots, e também com novas formas de operacionalização, como o pix e o open banking, bem como o aumento de novas formas de trabalho, a exemplo do home office, das agências digitais e dos agentes autônomos.

Uehara explica ainda que o ano de 2020, com a crise sanitária e econômica causada pela pandemia da Covid-19, trouxe impactos que permitiram aos bancos utilizarem e investirem em maior escala em seus canais digitais. Esse processo de digitalização representou uma enorme economia no custo operacional. Na prática, estima-se que houve uma economia de mais de 31, 9%.

Em contrapartida, a interação com robôs e a adesão ao sistema de pagamento instantâneo como pix cresceram exorbitantemente. Segundo Cátia, isso significa dizer que a que as pessoas tendem a deixar de utilizar os canais tradicionais, como por exemplo as transferências via TED e DOC, o que também poderá impactar significativamente as receitas das instituições financeiras.

“Enquanto as inovações ocorrem de forma gradual e sistemática, vemos a redução das agências. Somente de 2007 para cá, houve redução de cerca de 23,4%, principalmente no meio privado. Essa redução compromete o atendimento nas regiões mais carentes, tendo em vista ainda que no país temos, inclusive, problemas com relação ao acesso à internet. Isso é preocupante, porque as pessoas que já estão desassistidas ficarão ainda mais desamparadas”, pontuou.

Outro ponto destacado pela economista foi a redução dos postos de trabalho. De 2013 a 2021, 82.327 empregos foram extintos. E esse processo de inovações, atrelado à reforma trabalhista, mudará ainda mais as relações de trabalho. Exemplo disso é que já é possível perceber mudanças no perfil ocupacional da categoria, com condições de trabalho heterogêneas e, consequentemente, o aumento da PJotização da categoria e do teletrabalho.

“Como reação a este cenário de mudanças e os desafios impostos pela pandemia, especialistas fazem inúmeras especulações, mas ainda é um cenário incerto. Com isso, os bancos têm acelerado o processo de digitalização e intensificado o trabalho em home office. A expectativa é que os bancos reajam no período pós-pandemia com a redução dos juros e a ampliação das pressões competitivas às fintechs, além de reduzir custos com despesas de pessoal e despesas administrativas. Este é um cenário preocupante que necessita de uma reação da categoria e dos sindicatos”, finalizou a economista.

Leidiane Souza
Colaboração para o Seeb Brasília