
As bancárias e bancários de Brasília criaram, em reunião na Associação Atlética do Banco do Brasil, no último dia 15, o Coletivo de Combate ao Racismo.
O nome, ainda provisório, será definido por meio de consulta à categoria, já iniciada, de forma digital.
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O encontro contou com as presenças de representantes de grupos como o Caixa Preta, da Caixa Econômica Federal, e o BB Black, do Banco do Brasil, além de profissionais que ainda estão na fase de organização nesta temática.
A advogada Sarah Coly, sócia da LBS Advogadas e Advogados, que presta assessoria jurídica ao Sindicato, iniciou a reunião destacando dados estatísticos sobre a população negra e suas condições enquanto trabalhadoras e trabalhadores. Esses dados são essenciais para a definição de políticas públicas voltadas para ações afirmativas.
“A categoria bancária, ao considerar essa pesquisa de dados e informações, busca subsidiar a construção de políticas públicas que não se restrinjam ao ingresso de pessoas negras, mas também abarquem as relações raciais no ambiente bancário, garantindo sua permanência e ascensão profissional. Trata-se, portanto, de promover uma inserção justa e sustentável no mercado de trabalho”, enfatizou Sarah.
Ao tomar conhecimento da publicação “Diversidade, remuneração e representatividade: um panorama sobre a categoria bancária no Brasil em 2024”, elaborada pelo Dieese para o Sindicato e apresentada durante a reunião, Sarah elogiou o documento por trazer dados relevantes sobre a representatividade de bancários e bancárias negros e negras na categoria bancária.
Durante sua apresentação, a advogada Sarah destacou que, além de intervenções pontuais e contínuas, é fundamental adotar medidas concretas antes de recorrer às leis existentes de combate ao racismo.
“Como fruto de nossas experiências jurídicas, acredito ser necessário esgotar todos os recursos disponíveis antes de ingressar com uma ação judicial. Apenas após esgotarmos todas as possibilidades e caracterizarmos de forma inequívoca a prática racista nos ambientes de trabalho e nas relações sociais desiguais e ofensivas é que devemos buscar a via judicial”, enfatizou Sarah.
Portanto, destacou, que o combate ao racismo exige medidas concretas coletivas. “Porque individualmente, além de serem lentas, são de pouco resultados satisfatórios para a sociedade como um todo”.

Para o secretário de Combate ao Racismo e à Discriminação do Sindicato, Edson Ivo, "nesta ocasião, realizamos uma retrospectiva das conquistas alcançadas ao longo do ano, tanto no âmbito do movimento sindical quanto fora dele. Também demos início ao planejamento das ações para o próximo ano."
Ele destacou que o mais relevante foi a demonstração de vontade política para, coletivamente, implementar uma agenda tão necessária e urgente no combate à discriminação racial e ao racismo, problemas que ainda persistem de forma estruturante na sociedade brasileira.
Ajuntar (Aquilombar) para se fortalecer
“A primeira coisa é reunir as pessoas negras que trabalham nos bancos. Precisamos formar um grupo, um coletivo regional que envolva profissionais de todos os bancos. Chamar todos, porque sabemos que muitos estão isolados, muitas vezes em lugares onde não têm outras pessoas com quem compartilhar experiências”, iniciou sua fala a bancária Jaqueline Perroud do Sacramento, do BB Black.
Para Jaqueline, “nossas experiências precisam ser compartilhadas e transformadas em iniciativas que alcancem todos os bancos. É importante difundir essas ideias, fortalecer o coletivo, atrair mais pessoas e ampliar a divulgação.”
Ela continuou abordando outro ponto fundamental: "No próximo ano, teremos a Marcha Nacional das Mulheres Negras por Reparação e o Bem-Viver, que acontecerá em Brasília com o objetivo de reunir 1 milhão de mulheres."
“Acredito que precisamos ir além de olhar apenas para nós mesmos. Considerando que a média salarial em nossa categoria é 56 vezes maior do que a média nacional, há muitas pessoas que precisam do nosso apoio. Devemos usar nossa força de mobilização e nossa posição privilegiada para ajudar aqueles que não fazem parte da nossa categoria”, destacou.
Jaqueline também reconheceu os desafios que ainda enfrentam: “Temos muitos problemas para alcançar a ascensão em nossas carreiras profissionais. No entanto, somos privilegiados no sentido de termos uma condição melhor e uma força significativa. Por isso, é necessário nos mobilizarmos para além do movimento bancário.”
Por fim, ela enfatizou a prioridade para o próximo ano: “Devemos concentrar nossos esforços na mobilização para a Marcha das Mulheres Negras, além de ocuparmos espaços de poder em outras áreas que possam realmente trazer benefícios à população negra.”
Convocação geral
“Convoco e convido toda a base do sindicato a participar deste Coletivo que nasce hoje.” Com este apelo, a bancária Cyntia Santos Wermelinger, do Banco do Brasil, destacou a importância da união e da participação, reafirmando sua crença de que, sem o engajamento da base sindical, nada pode ser realizado.
“Vamos juntos nesta luta antirracista. Para ocuparmos espaços de decisão, é necessário desenvolver um trabalho estratégico. Precisamos, cada vez mais, garantir nossos espaços de fala e estar nos locais onde as decisões são tomadas.”
Cyntia foi incisiva ao concluir: “Precisamos estar unidos. É no coletivo que nos fortalecemos e avançamos na luta, para fazermos o melhor.”
Josibel Rocha, bancário da Caixa Econômica Federal, junto com as integrantes do Coletivo Caixa Preta, Arlete Pinheiro e Camila Paula Soares, destacou a importância da criação do Coletivo de Combate ao Racismo em Brasília. Segundo eles, “este é um pacto da pretitude nos bancos, unindo o Banco do Brasil, a Caixa, o BRB e os bancos privados na luta contra o racismo e pela igualdade de oportunidades nos locais de trabalho.”
Josibel enfatizou que “essa é uma luta histórica para ocuparmos cargos de prestígio social, posições gerenciais, de consultoria e, mais ainda, estarmos na direção da Caixa, do Banco do Brasil, do BRB e dos bancos privados. Esperamos que no próximo ano este coletivo se amplie, atraindo mais colegas desses bancos para participar. Queremos apresentar propostas concretas para a ocupação de cargos de confiança em nossas instituições e mobilizar a sociedade em nossa causa. O sindicato, com sua força política dentro da categoria bancária, é um elo essencial para dar voz às nossas reivindicações também fora do ambiente corporativo.”
Josibel defendeu ainda que as pautas do Coletivo sejam incluídas nos acordos coletivos dos bancos: “Estamos trabalhando para isso e esperamos que, em 2025, o sindicato participe ativamente ao nosso lado nesse processo.”
Ele também mencionou uma importante conquista: os bancários do Coletivo Caixa Preta já estão incluídos no Observatório da Saúde do Trabalhador. “É fundamental cuidarmos da saúde mental dos nossos colegas pretos e pretas, especialmente diante dos desafios que enfrentamos.”
Como um antigo defensor da luta contra o racismo, Josibel destacou que a busca pela visibilidade dos bancários e bancárias negros se concretiza por meio da ascensão funcional e profissional. “Há tempos estamos batalhando para que nossas empresas bancárias adotem ações afirmativas voltadas para profissionais negros e negras, efetivando mudanças significativas.”
O bancário do BRB, Leonardo Bispo, destacou que “este Coletivo conseguiu unir outros coletivos auto-organizados, como o Caixa Preta, da Caixa Econômica Federal, e o BB Black, do Banco do Brasil. Agora, com a participação do pessoal do BRB, acredito que também será formado um grupo auto-organizado para trazer as pautas específicas do banco.”
Ele ressaltou ainda a presença de colegas do Santander no evento: “Com o apoio da LBS Advogadas e Advogados, que trouxe dados relevantes, seria muito importante integrar as proposições do Coletivo ao Observatório do Trabalhador Bancário, que já está em funcionamento em Brasília.”
Leonardo encerrou sua fala exaltando a importância do evento: “O dia de hoje marca uma conquista significativa. Daqui para frente, precisamos fortalecer a organização do Coletivo, garantindo que as pautas dos bancos que mencionei sejam efetivamente levadas para a mesa de negociação.”
Para a diretora Eliza Espindola, do Santander, o diretor Watson Boaventura, do BB, e o bancário Iale Noblat, também do BB, a criação do Coletivo de Combate ao Racismo representa uma oportunidade de integração das questões raciais aos espaços já existentes, como o Observatório da Saúde do Bancário, e às demandas contempladas nos Acordos Coletivos. “É notório que a invisibilidade e a inexistência de colegas negras e negros nos postos de decisão são inegáveis, irrefutáveis. Não dá para esconder”.
Jacira da Silva
Colaboração para o Seeb Brasília
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