Debate reuniu representantes de órgãos públicos, sindicatos e trabalhadores para denunciar o avanço do adoecimento na categoria
A saúde física e mental dos trabalhadores bancários foi o tema central de uma audiência pública realizada na tarde desta terça-feira (23), na Câmara dos Deputados. A atividade foi convocada pelo deputado federal Vicentinho (PT-SP), com o objetivo de dar voz às denúncias e às demandas da categoria.
Estiveram presentes a deputada Erika Kokay (PT-DF); Zilene Zimema, coordenadora da Coordenadoria de Defesa do Meio Ambiente do Trabalho e da Saúde do Trabalhador e Trabalhadora (Codemat) do Ministério Público do Trabalho (MPT); Dercilete Lisboa Moreira, coordenadora-geral de Fiscalização e Promoção do Trabalho Decente do Ministério do Trabalho e Emprego; Ane Caroline Luz da Silva, do Ministério da Saúde; Adalto Duarte, da Fenaban; Mauro Salles, da Contraf-CUT; Sérgio Takemoto, da Fenae; André Guerra, doutor em Psicologia Social, advogado e assessor sindical; George Vittic, presidente do Sindicato dos Bancários do ABC; Adriana Bergamin, gerente de relacionamento de empresas do Banco Itaú; e Valeska Pincovai, representante do Sindicato dos Bancários do Rio de Janeiro.
A audiência foi aberta pela procuradora Zilene Zimema (MPT), que destacou a gravidade dos afastamentos relacionados à saúde mental. Entre 2012 e 2024, cerca de 50 mil trabalhadores foram afastados no Brasil por esse motivo, 15% deles apenas no setor financeiro. Para ela, mesmo quando os afastamentos não estão diretamente ligados às condições de trabalho, o ambiente laboral exerce influência determinante, marcado por práticas como assédio moral e sexual, discriminação e sobrejornadas.
Zilene relatou ainda situações graves já apuradas pelo MPT, como cárcere privado para cumprimento de metas, exposição vexatória, vigilância digital fora do horário de trabalho, assédio materno e rebaixamento após retorno de afastamento. Segundo a procuradora, o maior desafio é a subnotificação: muitas empresas não comunicam os afastamentos por saúde mental, cabendo aos sindicatos a maior parte das notificações oficiais.
Ela também destacou que o MPT atualizou, em 2023, a lista de doenças relacionadas ao trabalho, reforçando a presença de fatores psicossociais de risco no setor bancário. “É preciso ir além de questionários pontuais. O foco deve ser a prevenção primária, atacando a raiz da organização do trabalho que adoece”, afirmou.
Dercilete Lisboa, do Ministério do Trabalho e Emprego, chamou a atenção para os impactos do teletrabalho no pós-pandemia, implantado sem avaliação das consequências, especialmente quanto à jornada e às horas extras. Já Ane Caroline Luz, do Ministério da Saúde, reforçou que o caminho é revisar metas, horários e ambientes, garantindo readaptação e notificações fidedignas para que os dados reflitam a realidade.
Pela Contraf-CUT, Mauro Salles cobrou maior visibilidade ao adoecimento da categoria. “Existe a falsa impressão de que o trabalho bancário é fácil, por ser em ambiente climatizado. Mas a realidade mostra o contrário: o assédio moral vem sendo usado como ferramenta de gestão para cumprir metas, ignorando a condição humana. Pedimos socorro às instituições”, declarou.
A audiência também foi marcada pelo depoimento emocionante de Adriana Bergamin, gerente do Itaú, que relatou ter sido trancada em uma sala por oito horas até atingir metas e proibida de interagir com colegas para não “contaminá-los com suas ideias”.
Rafael Guimarães, dirigente do Sindicato dos Bancários de Brasília, pontuou alguns problemas de gestão dos bancos, mas apresentou propostas, como banco digital com atendimento humanizado para fomentar desenvolvimento e aumentar a segurança. Destacou ainda a aplicação do modelo 4x3, que aumenta os lucros das instituições financeiras e melhora a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras.
Wadson Boaventura, secretário de Saúde da Fetec-CUT/CN, fez uma breve apresentação de uma pesquisa que será lançada em breve. Ele destacou que “as relações de trabalho das instituições financeiras hoje são competitivas e produtivistas sob o olhar de um modelo de gestão pelo medo, baseado no controle organizacional e na rigidez hierárquica, enfraquecendo laços afetivos”. A pesquisa também avaliou atos de violência dentro das instituições financeiras, como intimidação, discriminação e humilhação.
Também esteve presente na audiência a Secretaria de Relações do Trabalho da Contraf-CUT, representada por Jeferson Meira, que fez questão de ressaltar a relevância da atuação dos sindicatos em defesa dos trabalhadores e trabalhadoras. Segundo ele, sem a atuação dessas entidades, “a situação seria bem pior”. “Vem se acentuando a questão do problema psicossocial. O movimento sindical tem feito vários estudos e está chegando à conclusão de que a massa de bancários adoecidos está se tornando bem relevante, enquanto os bancos estão atingindo lucros de R$ 1,4 trilhão em 20 anos, à custa do adoecimento da categoria”, finalizou.
A deputada Erika Kokay ressaltou que o modelo atual de gestão “captura até os sonhos dos trabalhadores”. Para ela, a cobrança excessiva transforma a vida dos bancários em sofrimento constante. “Trabalho não é lugar onde você perde a vida, mas onde você se encontra”, disse.
O deputado Vicentinho encerrou a audiência reforçando a importância de desmistificar o adoecimento bancário e se colocou à disposição da categoria para atuar no Parlamento e ao lado dos trabalhadores em suas lutas cotidianas.
? Íntegra da audiência no canal da Câmara Federal no YouTube
Stéffany Santos
Colaboração para o Sindicato
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