No próximo 25 de novembro, data que marca o Dia Internacional pelo Fim da Violência contra as Mulheres e o início da campanha dos 21 Dias de Ativismo, Brasília voltará a ser palco de uma grande mobilização nacional. A partir das 8h30 da manhã milhares de mulheres de todas as regiões do Brasil e de cerca de outros 30 países se encontram no Museu Nacional da República para, em seguida, participar da Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver. A mobilização retoma, dez anos depois, o espírito de resistência da histórica marcha de 2015 quando a Esplanada dos Ministérios foi tomada por vozes que denunciaram o racismo, o sexismo e as desigualdades estruturais que atravessam a vida das mulheres negras brasileiras.
Passada uma década, as razões que levaram aquelas mulheres às ruas continuam urgentes. O Brasil ainda é um país marcado pela violência de gênero e pela desigualdade racial. Segundo dados da Agência Brasil, foram registrados 1.450 feminicídios em 2024, um aumento de 12% em relação ao ano anterior. As mulheres negras seguem como as principais vítimas: 60,4% das violências notificadas contra mulheres adultas atingiram pretas e pardas. O DataSenado aponta que 85% das mulheres negras vítimas de violência doméstica ainda vivem com seus agressores e 66% delas têm renda zero ou insuficiente, o que evidencia a relação direta entre racismo, pobreza e vulnerabilidade.
Omissão do governo do DF agrava situação local
No Distrito Federal, o cenário é igualmente preocupante. Entre 2024 e 2025, 77% das vítimas de feminicídio eram pardas ou pretas. Mesmo diante do agravamento da violência, o governo Ibaneis Rocha tem se mostrado omisso: não apresenta políticas robustas de enfrentamento à violência de gênero nem garante investimentos estruturais nas redes de acolhimento e proteção às mulheres. Faltam recursos para abrigos, ampliação das equipes dos centros de referência e campanhas permanentes de prevenção. Enquanto isso, as mortes se acumulam e as promessas de políticas públicas efetivas seguem apenas no discurso.
Desigualdade na educação, trabalho e renda
A luta das mulheres negras também se estende ao campo do trabalho e da renda. O Relatório Anual Socioeconômico da Mulher (RASEAM 2025) mostra avanços tímidos: entre 2015 e 2024, a participação das mulheres negras no mercado formal cresceu de 3,2 milhões para 3,8 milhões, mas seus salários continuam muito abaixo da média dos homens e das mulheres brancas. Em empresas com mais de cem empregados, as mulheres recebem, em média, 79,3% do salário masculino.
“A precarização e o desemprego atingem especialmente as trabalhadoras domésticas, majoritariamente negras, que ainda figuram entre as principais vítimas de trabalho análogo à escravidão. Para muitas, a ausência de políticas públicas de geração de emprego e renda reforça um ciclo de exclusão histórica que precisa ser quebrado para que possamos construir um futuro com mais justiça social para todas”, afirmou a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT-DF, Thaísa Magalhães.
As desigualdades sociais e educacionais seguem o mesmo padrão. Entre os 7,3 milhões de jovens brasileiros que não estudam nem trabalham, 69,5% são mulheres, quase metade delas negras. A insegurança alimentar também é uma realidade alarmante: em 2023, 21,6 milhões de domicílios enfrentavam algum grau de insegurança alimentar, e quase 60% eram chefiados por mulheres, em sua maioria, negras. Esses números escancaram como o racismo, o machismo e a pobreza continuam determinando o acesso a direitos básicos no país.
Reparação e bem viver: a pauta da década
Diante desse cenário, a Marcha das Mulheres Negras de 2025 reafirma o compromisso com a reparação histórica e com o bem viver, conceito que simboliza uma vida digna, livre de violências e com acesso à saúde, educação, moradia, trabalho e participação política. As manifestantes exigem políticas públicas específicas de enfrentamento ao racismo e ao patriarcado, igualdade salarial e medidas concretas de proteção às mulheres negras.
“Dez anos depois da primeira Marcha, as vozes das mulheres negras ecoam ainda mais fortes na capital do país. E o recado é claro: não há democracia plena enquanto o racismo estrutural e a desigualdade de gênero continuarem determinando quem vive, quem morre e quem tem acesso a uma vida de direitos. A Marcha das Mulheres Negras por Reparação e Bem Viver é um chamado coletivo à transformação social que merecemos e precisamos”, afirmou a secretária de Combate ao Racismo da CUT-DF, Ana Cristina Machado.
Fonte: CUT-DF
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