Jornalistas participantes do BRICS Press Meeting reuniram-se em Niterói nos dias 3 e 4 de julho para lançar as bases de uma nova arquitetura informativa global. O encontro, que antecedeu a XVII Cúpula do bloco, resultou na "Carta de Niterói", documento que estabelece estratégias para fortalecer a soberania comunicacional dos países do Sul Global frente ao "monopólio midiático ocidental".

O texto destaca que, embora o BRICS reúna 40% da população mundial e 37% do PIB global, seus membros enfrentam sistemática criminalização na cobertura dos grandes conglomerados midiáticos. "Enquanto construímos uma nova ordem econômica multipolar, precisamos romper o cerco informativo que distorce nossas realidades", afirma o documento, citando exemplos como o bloqueio a Cuba, as sanções contra a Rússia e a exclusão de veículos iranianos de plataformas digitais.

Entre as propostas, destacam-se três eixos principais: a criação de uma plataforma multimídia unificada (abrindo TV, rádio e portais digitais); a formação de um pool de agências públicas de notícias para circulação direta de conteúdos; e o desenvolvimento de infraestrutura tecnológica própria, incluindo sistemas de satélites e servidores independentes. "Não podemos depender de algoritmos controlados por quem nos hostiliza", declarou um dos participantes, referindo-se a casos como a exclusão da Sputnik e do HispanTV de plataformas ocidentais.

O plano de ação prevê medidas imediatas como o lançamento de um portal unificado até 2026, a criação de um fundo para mídias alternativas e a implantação de um observatório de censura digital. A formação de comunicadores também ganha destaque, com propostas de intercâmbios profissionais e núcleos de pesquisa em "comunicação descolonial".

A iniciativa ocorre no contexto de expansão do BRICS, que em 2024 incorporou Egito, Etiópia, Irã e Emirados Árabes Unidos. Analistas presentes ao evento destacaram que a guerra na Ucrânia e os recentes conflitos no Oriente Médio aceleraram a percepção de urgência por soberania informativa. "Estamos testemunhando a politização crescente das plataformas digitais, onde narrativas do Sul Global são sistematicamente marginalizadas", observou um representante da TV BRICS.

O encontro reuniu veículos como Brasil 247, Prensa Latina (Cuba), Diário do Povo (China) e TeleSur (Venezuela), além de entidades como o Sindicato dos Jornalistas do Rio e a Associação Pushkin, e foi transmitido pelos canais do YouTube da Rádio e Jornal Toda Palavra, da TV 247 e da TV Comunitária de Brasília.

Com a meta de criar "o maior sistema midiático multipolar do planeta", as propostas da Carta de Niterói representam um salto na estratégia do BRICS para construir alternativas concretas à atual ordem informativa global. "Esta não é apenas uma resposta à censura, mas um projeto positivo de como a comunicação pode servir à cooperação entre povos", concluiu a declaração final do encontro.

Da Redação