Numa manhã ensolarada de domingo de Brasília, no último dia 19 de agosto de 2024, foram abertas as portas da Casa GOG, na região administrativa do Guará I, com a 1ª Mostra Cultural, que teve uma programação composta de literatura, música, libras, hip hop e cultura popular.
Localizada no comércio central da cidade, na Quadra 38, a Casa GOG traz na sua proposta o compromisso de enriquecer com mais este espaço cultural, esta cidade cheia de vida e alegria. Espaço físico em construção de três ambientes: estúdio, cozinha de formação de gastronomia e salas de atividades culturais como a dança, as artes plásticas, visuais, como também para reuniões de estudo, encontros, seminários, debates e confecção de roupas e artesanatos personalizados.
Um dos principais objetivos, considerado de grande importância pelo idealizador Gog, “é o de agregar culturas, histórias de vida, experiências comunitárias, em destaque, para a juventude e crianças no processo de formação. Inclusive com a inserção das famílias no acompanhamento e participação”.
A Casa GOG traz na bagagem do seu trabalho musical, social e comunitário do artista brasiliense, por meio deste gênero musical, hip hop, criado há 51 anos, no Bronx, Nova York, com a presença no Brasil há 40 anos, uma das linguagens musicais de maior penetração na sociedade. Comunicação periférica, de raiz negra, como autoafirmação, autoestima, auto empreendedorismo verbalizado, cantado, escrito nas produções poéticas, em sua maioria, autorais e de grupos independentes, que nasceram inspirados na geração dos anos 1960.
Em pleno processo político do regime autoritário, ditatorial, estas “tribos” como foram e se autodenominam para a comunidade do hip hop, encontraram a maneira de protestar contra as desigualdades sociais, racismo, machismo, homofobia, com deficiência e quaisquer formas de opressão, através da cultura. Lutando sempre por uma sociedade não excludente. E que até hoje lutam para o rompimento do estereótipo de que ser negro, fazer rap e morar na periferia é bandido.
Espaços também conquistados pelas mulheres negras e não negras. O hip hop traz para o palco, para a visibilidade, estas jovens que, na realidade, são discriminadas até hoje. "Não conseguiram nos parar. Impedir nossos sonhos de liberdade, igualdade de direitos, o nosso protagonismo”, ditos principalmente, nas suas músicas autorais.
A proposta da Casa GOG como diz seu fundador, o happer Gog, “é de acolher, dividir, somar, apreender, são as trocas de saberes e sabedoria, ao invés de levar, ensinar. Como também identificar os talentos, as potencialidades, as possibilidades de mudança, na construção desta nossa sociedade brasileira para que seja mais justa e igualitária”.
No evento, além das famílias e crianças da comunidade, que soltaram pipas com os pais e irmãos, prestigiaram convidadas e convidados de representatividade político-cultural, como o ex-deputado distrital e federal Geraldo Magela; os presidentes do PT-DF, Jacy Afonso, e do Sindicato dos Bancários de Brasília, Eduardo Araújo; e do parceiro Edson Leite, responsável pela implementação da cozinha gastronômica. Às crianças foi oferecida uma oficina. E houve uma demonstração de ter e fazer uma alimentação saudável.
Também estiveram presentes, a Articulação de Mulheres Negras, o Coletivo de Mulheres Negras Baobá DF e Entorno, representado pela matriarca arte educadora Lydia Garcia, fundadora do Bazafro Atelier de Moda e Arte Étnica, que presenteou ao Gog com o patuá de sua criação. E, ainda, a baobá jornalista Jacira da Silva, a professora Neide Rafael, do Quilombo, e Kenya Melo, terapeuta integrativa e ativista do Movimento de Mulheres Negras do Rio de Janeiro.
Apoios à iniciativa
Além dos agradecimentos e desejos de total sucesso, as baobás salientaram: “Esperamos que esta iniciativa possa fortalecer e somar nas atividades comunitárias que desenvolvemos, no Setor de Chácaras Lúcio Costa, Guará I, há mais de seis anos, destinadas às 100 famílias que vivem em vulnerabilidades sociais, culturais, de saúde, educação, em sua maioria, famílias negras, lideranças que lutam pela dignidade da comunidade. Tudo isso só é possível graças ao resultado de parcerias, como as dos sindicatos dos Bancários de Brasília e dos Professores (Sinpro/DF), MST/Projeto Dividir, Grupo Bordelando, Ação Cidadania e doações de familiares e amigos.
Com muita alegria, também prestigiou este momento especial, uma das coordenadoras gerais da Construção Nacional da Cultura Hip Hop, a jornalista Claúdia Maciel, da Ceilândia. Ela destacou a valiosa importância da criação da Casa GOG para o hip hop. E informou: “Em julho deste ano, por meio do nosso movimento que reúne representantes em todo o Brasil, foi oficializado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), o pedido de registro do Hip Hop brasileiro como Patrimônio Cultural do Brasil.
Referências de outros estados, como uma das incentivadoras e parceiras do trabalho do Gog, Silmara Rodrigues, do Estado do Rio Grande Norte, veio participar da Exposição das Margaridas, com os produtos das mulheres da região.
Ao som coordenado pelo musicista Alisson (Mulumba), houve a oficina de dança rap oferecida pelo professor B. Boy – Will Loking. São agentes culturais que também coordenam grupos musicais que produzem e interpretam nos palcos de Brasília e do Brasil.
Estas parcerias, destaca Gog, "acreditam neste nosso projeto sociocultural comunitário, como o responsável Joaquim Barroncas, pelo Guia Musical de Brasília, que entregou dois violões, sendo um doado pelo apresentador Marcelo, da Rádio Nacional. O outro violão e um violino foram doados por bancários e bancárias.
Barroncas também viabilizou a Campanha de Doação de Instrumentos Musicais para a Casa GOG. Ele contou que no show "A transformação social por meio da música", promovido pelo Clube do Choro, teve a felicidade de encontrar o Gog e, desde então, foi iniciada esta campanha que destina a doação de instrumentos musicais para a Casa GOG, em construção. Adiantou que a continuidade da campanha será em novembro deste ano, no Clube do Choro, com outro show. O espaço sociocultural já foi agraciado também com duas cuicas e um pandeiro. Outra grande incentivadora e apoiadora é a professora e cantora Márcia Tauil, que vai ministrar as aulas de música.
O evento também teve a contribuição, nas oficinas, da intérprete de Língua de Libras, a professora Ana, além da coordenadora pedagógica Maya Marques; na gastronomia, o mestre Edson Leite; e como assistente de produção, Josh.
Outros apoiadores, conforme registra Gog, são o Instituto Marola; o comunicador e jornalista André Constantine, do 247; além do papel fundamental da equipe Gog, familiares e vários voluntários.
Quem é Gog, o poeta do rap nacional
Artista brasiliense, natural de Sobradinho, Genival Oliveira Gonçalves, o Gog, conhecido como o poeta do Rap Nacional, pai de um casal de filhos e avô de dois netos, descobriu e vivencia o ritmo musical hip hop desde a sua adolescência.
É o seu afã, o seu respirar, o seu bem-viver. “O hip hop me ajudou a conquistar tudo o que eu tenho, mas principalmente minha 'persona'. Essa coisa que falo da afrobetização, de me colocar primeiramente como homem negro, depois periférico, depois brasileiro. Minha nacionalidade é o terceiro ponto. Isso facilitou muito as minhas andanças pelo planeta nestes 48 anos”, destacou.
Apoios e parcerias urgentes
Morador do Guará, há 51 anos, Gog brincava dançando nas ruas ao som das casas, porque não existiam espaços de lazer e culturais na cidade. Em entrevista concedida ao Guia Musical de Brasília, o fundador declara: “A Casa GOG será um presente para a comunidade. Uma casa de cultura, uma casa de manifestação, assumindo os problemas e os méritos da quebrada. Vai ser mais um espaço de afrobetização, com mais conversas, mais diálogos. Vai ter um podcast para que as próprias pessoas da quebrada possam produzir. A gente vai montar um estúdio e uma sala de 30 pessoas para cursos. Um espaço de contraponto ao que está acontecendo na parte espiritual, religiosa mesmo, senão o problema vai ficar maior para nós”.
Gog observa: “Portanto, o projeto Casa GOG precisa hoje e sempre de parcerias, apoios, para sua manutenção e viabilidade de sobrevivência para atingir os propósitos que são coletivos e comunitários”.
E conta que tira do seu bolso, dos seus shows, para ir subsidiando as necessidades do espaço físico e as atividades da Casa GOG. “O primeiro passo já foi dado. Venham comunidade e parcerias viabilizarem este sonho que virou realidade”, diz, orgulhoso, satisfeito e com os pés no chão.
Jacira da Silva
Colaboração para o Seeb Brasília
Copyright © 2025 Bancários-DF. Todos os direitos reservados
Feito por Avalue Sistemas