
O Parque das Garças, localizado na Península Norte, um espaço de lazer e de preservação ambiental, sofre mais um ataque da especulação imobiliária, que pretende, a partir da iniciativa da Terracap, construir edificações no local, descaracterizando-o como área de lazer que contribui para a melhor qualidade do clima e do meio ambiente, oferecendo o acesso ao Lago Paranoá, para quem busca tranquilidade e encontros com familiares e amigos. O Parque das Garças serve para toda à população de Brasília, não apenas da região do Lago Norte, como mostram dados sobre seus visitantes.
Em 25 de setembro, o Conselho de Planejamento Territorial e Urbano do Distrito Federal (Conplan) aprovou, por unanimidade, que o Lago Norte terá um novo local para esportes aquáticos, lazer e gastronomia na orla do Lago Paranoá. Foi prevista pelo plano aprovado a destinação de uma área de 53.184,95 m² nos trechos 15 e 16 do Lago Norte, ao lado do Parque Ecológico das Garças, para a implantação dos empreendimentos. Pretende-se criar algo semelhante ao Pontão do Lago Sul, ocupando parte do parque.
As crises climáticas
Nas últimas semanas, Brasília enfrentou um clima inóspito como nunca, apesar de estarmos acostumados a baixa umidade e calor, que bateu recorde com a alta temperatura, que ultrapassou 37°. Vivenciaram-se dias desagradáveis, inclusive com a suspensão de aulas em muitas escolas da região norte de Brasília.
Isso é consequência dos incêndios florestais, do desmatamento e da exploração desenfreada dos recursos naturais, que têm provocado a mudança climática, causando enchentes no Rio Grande do Sul e secas na região Amazônica, entre outros desastres ambientais que o planeta enfrenta.
Os riscos que a humanidade enfrenta diante da catástrofe que se avizinha com enorme velocidade exige uma atenção redobrada. É preciso estar atento para evitar o pior, como os dias vivenciados recentemente. Essa situação aumenta as doenças respiratórias, causa picos de pressão alta e tonturas em grande parte da população.
Parque das Garças
Criado em 25 de outubro de 2002, por pressão da população e com apoio legislativo do então deputado Geraldo Magela, o Parque das Garças recebe milhares de pessoas aos finais de semana, oriundas de todas as regiões de Brasília, inclusive do Entorno, que buscam um local aprazível, tranquilo e que possibilite o contato direto com o Lago Paranoá.
No passado, o Clube do Congresso ocupou a área, a qual foi liberada, em 2017, pelo programa do governo Rodrigo Rollemberg para a liberação da orla do lago. Ainda assim, o clube manteve 20% da área.
Em novembro de 2023, a Câmara Legislativa realizou uma audiência pública, chamada pelo deputado Chico Vigilante, com a participação da Terracap, Ibram, Associações de Moradores e de Defesa do Parque das Garças para debater o projeto da Terracap. Na audiência, o deputado afirmou que “é preciso legalizar o parque, dar acessibilidade, replantar e esquecer os prédios”. Na oportunidade, o deputado destacou que não é necessário conceder parcela do terreno à iniciativa privada.
A comunidade se mobiliza em defesa do parque
Para enfrentar os ataques da especulação imobiliária e do GDF, a comunidade se organizou no Movimento em Defesa do Parque das Garças, que reúne 53 entidades, como a Agenda 2030 (ONU), movimentos sociais, associações de moradores, parlamentares e a população em geral. O movimento tem realizado permanentemente debates e a mobilização comunitária em defesa do parque, com a realização de reuniões com moradores, visitantes do parque, técnicos e ambientalistas. E cobra das autoridades uma postura mais consequente diante do risco de mais um desastre ambiental em Brasília.
O movimento também fez um abaixo-assinado em defesa do parque, conseguindo até agora coletar mais de 20 mil assinaturas exigindo a criação de um plano de manejo, a preservação e estruturação necessária para que o Parque das Garças siga cumprindo sua função social e ambiental. Intitulado "Salve o Parque das Garças", o abaixo-assinado destaca que o movimento é contrário à implantação do projeto e propõe a ampliação da área do Parque Ecológico das Garças pela incorporação da parcela situada entre os atuais limites do parque e do Clube do Congresso, anteriormente ocupada pelo clube.
Doralvino Sena, bancário aposentado do Banco do Brasil, coordenador do Movimento em Defesa do Parque das Garças, afirma que "os interesses do GDF não são os interesses da comunidade, da população do Distrito Federal e do Entorno. Nosso interesse é essa integração ao parque de toda aquela área para ficar uma espécie de um triângulo na ponta da península do Lago Norte, além de que ele cumpra essa vocação, ou seja, ser sustentável, aprazível e de convívio de toda comunidade com a natureza", destaca.
Sena lembra que o parque não é ocupado apenas por moradores do Lago Norte, sendo que a maioria dos visitantes são de várias regiões administrativas do Distrito Federal, como Gama e Sobradinho. "Inclusive, tem pessoas que vêm de fora, como Formosa. A gente descobriu, conversando com as pessoas, que eles vão lá porque é uma área tranquila. E o GDF quer transformar aquela área em uma espécie de 'Pontão do Lago Norte'", diz o coordenador, em referência ao centro de lazer e entretenimento no Lago Sul, que também passou por privatização.
Sena também lembra que o Parque das Graças é uma Área de Proteção Ambiental (APA) e uma zona de amortecimento. Para ele, nada deveria ser construído na região. "Do outro lado, temos a orla do lago, então eles estão descumprindo a legislação. Esse projeto não possui relatório de impacto na vizinhança, na mobilidade, nem relatório de impacto ambiental. Estão totalmente desprovidos de cobertura legal para o que estão fazendo", relata.
Atualmente, o Parque Ecológico das Garças não possui Plano de Manejo, instrução normativa necessária que estabelece o zoneamento e as normas que norteiam o uso. Na prática, o plano determina o que pode ou não ser feito em áreas de preservação ambiental. A responsabilidade de elaboração do documento é do Instituto Brasília Ambiental (Ibram). De acordo com informações disponíveis no site institucional do Ibram, existem 86 Unidades de Conservação no DF, no entanto, apenas 40 contam com o plano.
Festa de 22 anos do parque – 20 de outubro
Domingo 20 de outubro o Movimento em Defesa do Parque das Garças realizará uma festa com música, teatro e atrações infantis para marcar o aniversário de 22 anos da criação do Parque. A comunidade da região norte e de outras partes de Brasília seguem atentas e mobilizadas para barrar mais esta ação da especulação, comandada pela Terracap, que visa destruir um espaço que tem grande importância para a preservação ambiental e a qualidade de vida da população.
Da Redação
Copyright © 2025 Bancários-DF. Todos os direitos reservados